domingo, 27 de junho de 2010

Efeitos anti-gravitacionais

(E a inspiração veio no ônibus e me faltou caneta. Por que diabos te devolvi?)
Foi quando olhei pro alto e vi a lua, ao som de Pethit. E me dei conta de que a vida estava me dando a chance de ser feliz com as relações (in)completas.
E eu agradeci. Pela plasticidade que somos, pela liberdade de expurgar todos os sentimentos, pela estupidez convencional, pelos suspiros pela vida, por viver em suspiros, pelo rumo das coisas, por racionalizar a cada dia na sua forma mais passional, pela amizade verdadeira sem interrupções, pela certeza do sentimento que me dá a certeza de que te quero por perto da maneira certa, pelo riso frouxo e certo da companhia doce, pelas idéias positivas, pelo despertar mais terno na alegria de te ter comigo.

Agradeci pelas inspirações e pelo lirismo que desadormeceu em mim.
Dei-me conta de que tudo está perfeitamente desencaixado.

E vi a lua.
E lembrei que agora posso sorrir com o motivo que me derrubou em lágrimas.
A mesma lua que me fez amar, foi a que me fez chorar e hoje, viver.

Caminhei os poucos passos que me restavam entre meu ponto e minha porta.
Num último olhar para o alto, fechei os olhos e desejei. Que tivesse a (in)certeza das minhas escolhas, que fosse capaz de sorrir com a confusão dos meus pensamentos, que o tempo firmasse meus ideais, que grandes idéias caminhassem ao meu lado. Desejei coisas que não sou capaz de escrever. Desejei uma caneta, um giz. Sentaria na calçada e escreveria no asfalto, como nos tempos passados - sentada no chão, desenhava ao meu redor uma nave. A mesma nave, com os mesmos botões, as mesmas parafernalhas. Eu previa a lua na minha vida. Eu desejava a lua por perto. Eu me via perto da lua.
Voltei para meus 23 anos. Desejei mais tempo para minhas lembranças. Desejei você feliz. E que, livre da forma pré-concebida, mas do jeito que achar que te cabe.

Desejei que nunca se cansasse de mim.

sábado, 26 de junho de 2010

Eu estou andando. Com os olhos fechados, apalpando as paredes. Eu não sei pra onde vou, nem o que encontrar, mas eu ando. Eu percebo a textura, eu localizo os barulhos e identifico cheiros. Eu vou muito além do que previa e tudo isso sem enxergar. Eu estou manipulando objetos para associar o caminho; como João e Maria jogo artefatos no chão para voltar atrás caso queira. Caso tenha volta.
seja bom, seja amor.
contanto que exista.

domingo, 20 de junho de 2010

Dos devaneios


É bom se ver acordar. Fico bem vendo o sol ou sua sombra despontando na vida. É delicioso ver os ares dos olhos abertos para o dia que começa. Vontades transbordando, sonhos. Sonhos estendidos da noite que se viveu longe, por um fio.
Pela manhã a vida é mais clara, mais lúcida.
Delírios noturnos se confundem com fatos e nada é tão verídico.

Ao mesmo tempo, as mesmas pessoas interrompem os mesmos sonhos.
E a manhã convida para as mesmas horas, costuradas com as mesmas idéias,

dando a chance de criar novos desejos, que entrarão na fila dos sonhos ao anoitecer.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Do instante em que eu acordo ao pestanejar sonolento, eu penso. Em cada passo dado, a cada travessia da ponte, cada mordida na carne, cada letra que escrevo na monótona aula de farmacognosia, até o grafite quebrar.
Penso com força até doer, penso na vida, nos meus planos fracassados - o que concluo, esqueço; meus olhos não piscam quando penso. Sinto um calor ondulado, um arrepio sorrateiro no instante que direciono o pensamento.
Por bem ou por mal, na vida ou na morte, escolhas e desistências. Pessoas. Todos os dias penso um pouco em cada um. No meu pai e suas dificuldades, que camuflam suas facilidades, na minha mãe que de tanto abrir mão, hoje se encontra na corda bamba da dependência. Penso e peso os amigos. Os que tanto vejo que não qualifico. Os que se quer falo. Os que amo. Penso no que queria amar. E é nessa hora que me penso. Carente, frágil, mesquinha. Como um sopro, sinto minha característica - palavra fria, pulverizar ao meu redor.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Almanaque

Ó menina vai ver nesse almanaque

como é que isso tudo começou

Diz quem é que marcava o tic-tac
e a ampulheta do tempo disparou

Se mamava se sabe lá em que teta
o primeiro bezerro que berrou

Me diz, me diz, me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Quem penava no sol a vida inteira
como é que a moleira não rachou

Me diz, me diz

Quem tapava esse sol com a peneira
e quem foi que a peneira esfuracou

Me diz, me diz, me diz por favor

Quem pintou a bandeira brasileira
Que tinha tanto lápis de cor

Me diz, me diz, me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Diz quem foi que fez o primeiro teto
Que o projeto não desmoronou

Quem foi esse pedreiro esse arquiteto
E o valente primeiro morador

Me diz, me diz, um morador

Diz quem foi que inventou o analfabeto
E ensinou o alfabeto ao professor

Me diz, me diz
Me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Quem é que sabe o signo do capeta
E o ascendente de Deus Nosso Senhor

Nosso Senhor

Quem não fez a patente da espoleta
Explodir na gaveta do inventor

Me diz, me diz, me diz por favor

Quem tava no volante do planeta
Que o meu continente capotou

Me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Vê se tem no almanaque, essa menina,
Como é que termina um grande amor

Me diz, me diz... Um grande amor

Se adianta tomar uma aspirina
Ou se bate na quina aquela dor

Me diz, me diz
Me diz... Aquela dor

Se é chover o ano inteiro chuva fina
Ou se é como cair do elevador

Me responde por favor
Pra que que tudo começou

Quando tudo acaba.

(Chico Buarque)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

corpo de Cristo

A vida tem desses arroubos. Desses arrombos. A gente dorme e acorda cansado. O dia corre feliz e deitamos tristes. Deitamos incompletos. Sempre falta algum sentimento. Sempre falta alguma pessoa. Eu estou exausta. Exausta de sonhar, de acordar. Hoje sonhei contigo. Sonhei que ela não aguentava seu jeito e você voltava praquela que te aguentou tempo demais. Sonhei com você também. Lá você era simples, mas singular. Nos meus devaneios você era o que eu sempre quis. Você não tinha tormentos. Aposto que você iria amar sonhar o sonho que sonhei. Sim, você também. Você foi o último da noite. Como em 'Teresinha' do Chico, chegou como quem chega do nada. Não disse nada. Apenas se deitou ao meu lado. E hoje, mais do que deitar, quero explicações. Quero que você me explique as sacanagens suas e as da vida. Com propriedade. Te dizer... Eu cansei da vida. Dessa vida morta. Eu estou exausta. Exausta pelos meus sonhos. Pela realidade também. Mas já nem sei mais o que é o quê. E confesso que muito menos quero saber.
Hoje levantei meio atropelada. Hoje é feriado. De que mesmo? Num entendo esse dia. É latim. Arrisco em dizer que poucos entendem. É o dia de pôr a vida em dia. É a vida de pôr o dia em dia. E hoje acordei poesiando mais pra cuspir menos nos outros. Quando escrevo, eu dreno. Ai, cacete, agulha. Entre uma risada e outra eu poesio mais e sofro menos - ou mais? Ah, diabo.
E diabo nada tem a ver com Corpus Christi (escrevi certo?). E cá estamos nós perdidos nos assuntos. Meus sonhos, meus dias, meus amores, ex-amores que são amores, minhas ex-vidas.

"mas agora", pensou a pobre Alice, "não adianta nada fingir ser duas pessoas! Ora, mal sobra alguma coisa de mim para fazer uma pessoa apresentavél."

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dezembro II

Um silêncio.
Uma escuridão.
Uma advertência.
Uma risada.
Duas risadas. Várias.
Vou contar uma história.
Escolhida a dedo.
Dedos. Mãos. Surpresas.
Toques.
Direção errada.
Outra advertência.
Minhocas.
O roçar da barba.
O elogio. O 'continua'.
Uma perna. Duas. Quatro.
Entrelaçadas.
Opa. Desculpa.
Não, tudo bem.
Isso é divertido.
Uma noite.
Um erro.
Tem nojo? Não.
Foi.