segunda-feira, 6 de março de 2017

Do eu de agora (ou "Um gostar que já vale pelo tanto que escrevo")

depois de viver tudo
com todos
de jeitos muitos
eu cheguei aqui

cabelo em fios desalinhados
roupas amassadas
trocando pernas
e pedindo que me deixe

que me deixe escrever um pouco
me deixe sentir de novo
deixe amar torto
fingindo displicência
em disfarce do tanto que você me é.

que me deixe pensar
que aqui dentro há mais entre nós
que no mundo real
que tenho além
do que posso querer

E quero o tempo todo
sem pressa alguma
te sentir sempre

E, então, virou isso:
esse te sentir sem espera
sem dívida
sem data
nome
ou versão

gostar apenas porque cabe
amar um amor pra sempre
e um também amar pra nunca

ai... nuca.
Acabo de sentir seu cheiro
de novo.

aqui dentro da cabeça. de novo. e de novo.

veio junto com os barulhos que faço
em sussurro
só pra você escutar
sons que vão escorrendo de mim
pro ar, e que você (es)colhe.

Ahh.

Suspiro.

E todos os dias é tudo isso
eu e tu
sem pudor
num abraço que cabe a vida toda
que me amolece inteira
que tem prazo
(não limite)
vai até um cruzar de porta
É um encostar de pele
que dura o tempo do universo
ou vai até o brotar de alguém
ou dum barulho.

Susto.

Afasta.

Dedos se entrelaçam, e se soltam.

Da memória arranco aquele olho direito
que pisca pra mim
em eco.

Outro suspiro.

E que me deixe, por favor
te amar pra nunca.