Você tem 20 minutos? Preciso contar uma história de superação. Uma história cheia de exageros e piadas internas comigo mesma. Mas, acima de tudo, uma história factual.
"Oi, por favor, um táxi para 17:15h. Laboratório Servier do Brasil. Obrigada"
"Senhora Eleanor, o táxi número 576403983 a aguarda"
Se eu soubesse o que viria pela frente? Iria assim mesmo.
Foi uma noite quente. No sentido das idéias. Mas passei um frio do cacete naquele lugar dos infernos chamado Aeroporto Santos Dumont.
Eram 18:30h quando entrei no saguão principal. Recebi alguns ligações perguntando se tudo estava bem. Caía uma chuva torrencial no Rio de Janeiro. Ricardo, motorista do trabalho, Vera, minha amiga, Monica, minha chefe, meu pai, Fernando, todos me telefonando, questionando se iria mesmo. Fui para fila fazer meu check-in. Atrás de mim, um homem alto, careca, blusa estampada, um casaco de lona, uma mala "frágil" e um sorriso: "Essa gravação só repete o que a gente já sabe". Sorri e fui atendida. Feliz da vida, fui adiantada para o vôo de 19:40h e chegaria em São Paulo antes do previsto. Dava pra assistir mais de dois episódios de Friends (a 4ª temporada estava na mala...)
Eram 20:40h quando ainda estava no salão de embarque. Com 9 reias, comprei um sanduíche natural de peito de peru com coca-cola. Ouvia Rita Lee e lia Chico Buarque. Excelentes companhias. Do meu lado, sentou o cover do Patrick Swayze, indo pra Vitória - ES. Do outro lado, uma leitora de "Morro dos ventos uivantes". Carol, 28 anos, minha alma gêmea. Exceto por morar no Leblon. Tínhamos o senso de humor idênticos, a mesma gargalhada e o nariz escorrendo de crise alérgica. Fã de FRIENDS, doente por Crepúsculo (segunda diferença). Logo a seguir descobri que lia aquele livro porque era o favorito de Edward e Bela. En-fim.
Eram 21:30h quando o cara simpático check-in surgiu. Sai Patrick Swayze, entra ele. "Posso tirar uma foto sua?" (é cada um que me aparece, pensei) "Pra quê quer uma foto minha?" "Pra registrar essa noite inesquecível" "Prefiro que tire foto do meu pé, todo picado de mosquito" "ok". Diálogo de nada serviu, quando dei por mim estava às gargalhadas com Johann Bécker, sendo fotografada e fotografando. Uma Nikon que pesava, sei lá, uns 3 quilos. E lá fui eu, câmera em punho, fotografar o aeroporto. A chuva não cedia. O humor também não.
Eram 22:30h quando entrei no avião. Emocionada, louca para pôr os pés no quarto do hotel, dormir em paz para viver o dia seguinte com dignidade. Mais tarde saberia que "dia seguinte" e "dignidade" não entrariam na mesma frase. "Senhores passageiros, por motivos metereológicos, o aeroporto encontra-se fechado para nossa decolagem. E, para piorar a sitação, o Santos Dumont não opera após 23h. Boa noite" Sempre achei graça nesses informalismos de piloto de avião/barca. Hoje, não.
(Adiantando) Eram 01:20h quando estava pela segunda vez no check-in. Vôo para 08:10h. Nessa fila, que deveriam ter umas 600 pessoas (sem exageros), conheci uma galera boa. Conheci Mariana, 23 anos. Minha segunda alma gêmea. Formada em jornalismo pela Uerj, tá morando em SP, trabalhando no setor de vendas da Nestlé, na área de produtos terapêuticos. Dona de uma risada fofa, um vestido mais fofo ainda. Cedeu seu edredon pra eu sentar enquanto aguardava ser atendida. Com o vôo já remarcado, liguei para Laura Lamas, que mora em Laranjeiras. Ela fez a caminha pra mim, mas os fucking shit motha fucka bitchs dos taxistas não quiseram nos levar. Falo na primeira pessoa do plural, porque daí em diante entra o Johann grudado nos meus passos. Ele tem um apartamento em Laranjeiras também. Esse lugar, inclusive, foi me oferecido com insistência. Nem comento isso.
Eram 02:16h quando desisti de sair do aeroporto. "Johann, me dê licença. Vou ao banheiro escovar os dentes e dormir." Meu amigo se encostou num canto qualquer e apagou. Não a noite toda, pois dificilmente um adulto beirando seus 50 anos dorme um noite toda. Que dirá no chão. Escovei meus dentes, vesti minha blusa de Avatar - que era pra ser do Raphael por mérito, coloquei meias, me enrolei na paximina, pus meu tapa-olho curitibano, enfiei a bolsa de mão na mala, coloquei celular pra despertar e capotei no chão, pernas por cima da mala por hábito e precaução. Acordei com a gravação "ANVISA informa"... Pros INFERNOS, ANVISA! Levantei com Johann me acordando "me empresta 2 reais? o caixa eletrônico tá fora do ar..." Ok. Ele retornou com um café com leite quente e acolhedor. Poderia classificar esse momento de diversas formas, mas prefiro não. Fui até o banheiro, lavei o rosto, dei bom dia às pessoas com ar taciturno. Por uns instantes parecia hotel. Mas alguns minutos mais tarde voltei a me senti gravando "O Terminal" ou "Ensaio sobre a cegueira".
Eram 08:00h quando notei que não iria mais pra SP. Já tinha visto de um tudo. Até a Rita Cadillac. Virei amiga de uns dos diretores do Banco Real. Um fofo. Literalmente. Nessa manhã Johann me convida para viajar pra Fortaleza. Como convidada para o Festival de cine digital. Cacilda. Onde eu fui parar?! "Fique tranquila, um quarto só pra você. Você merece pela companhia maravilhosa que foi essa noite". Meu Deus, como isso pegou mal! Eu queria sumir. Mas ao mesmo tempo vivi intesamente cada minuto. Foi aí que desisti. "Amigo, quero ir embora. Me dê minha bagagem" "Me acompanhe" Fui até setor de bagagem, conheci uns funcionários animadérrimos. Uma noção? Depois de esperar 10 min minha mala, estava sentada no balcão ouvindo piada e tomando água. Quando Renê chega com minha mala, vem junto uma outra bem conhecida. A mala de Johann. Cheia de equipamento. Se eu fosse má, poderia ter levado embora aquilo tudo. Mas não queria mais vínculos. A questão, entretanto, é mais sério do que se imagina. E se fosse ao contrário?! A mulher do check-in entendeu que estávamos juntos em viagem e despachou tudo junto. Céus...
Eram 11:00h quando fui pra fila pegar reembolso. Queria banho, comida, queria dormir, queria fazer número dois. Conheci mais pessoas. Duas cariocas/nordestinas, uma mocinha trabalhadora de Nilópolis, que deixa sua filhinha de 3 anos com a mãe pra ela viajar pra Vitória, conheci um menino lindo de Goiânia que trabalha na Floresta Amazônica, mas que ganhou férias de 3 meses pra viajar pelo Brasil, conheci um cozinheiro mineiro animado também. E vi Dan Stulbach. "Sopapos" para alguns, "Tom Hanks" pra outros. O que importa é que pra completar meu 'ciclo de esbarrar com meus favoritos' falta só o Chico Buarque e o Johnny Depp. Wagner Moura já foi. 3 vezes.
Eram 12:30h quando finalmente podia ir embora. Me senti alforriada. Fui ate um táxi qualquer "moço, me leva pro meier?" "impossivel" "e pra cinelândia?" "tambem não" "moço, pra que você tá aqui entao?" E saí. Quando, de repente... avisto "Taxi Méier". "Moço, me leva pro Méier?" "Pra lá, eu levo".
Eram 14:00h quando estava de banho tomado, macarrão no estômago e de pijaminha. Sem conhecer São Paulo, minha cidade submersa, sem aula, sem trabalho, mas com uma sensação de vida bem vivida danada.
Boa noite.
terça-feira, 6 de abril de 2010
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