domingo, 10 de maio de 2020

vontade de reescrever

Acordei com choro, e cutuquei o primeiro corpo que encontrei: sua vez.
Fiz sem intenção de dia, mas foi fazendo o que sempre faço ~ olhar o celular ~ que pensei, fiz bem. 

Hoje é dia das mães. Meu dia, sabe? Sou mãe agora. Coisa de alguns dias só, se for pegar pelo sentimento, e não pela Natureza.

Dei alguns minutos, e ninguém veio na minha cama, nenhum pai disse na sala leva lá pra mamãe. Sentei na beira da cama, tomei meus remédios e me levantei pra mais um dia. Na sala encontrei uma segunda-feira, ou uma quarta. Encontrei um batendo panela indignado com o tédio e outro tomando ansioso seu café da manhã. Filho vem dar parabéns pra mamãe até teve, mas logo foi afogado por um grito que claramente significava detesto ser interrompido.

Sem dúvida das minhas obrigações, peguei o primeiro brinquedo que encontrei e sentei no chão.
Dei papá pro au-au, fiz piuí com trenzinho, cantei caranguejo não é peixe.
Por um milagre, chegou minha vez de tomar café da manhã. Levanta do chão, choro, grito, mamãe vai só preparar o café, você já tomou seu mamá, e vamo que vamo. Inventei recentemente uma nova ordem de queijo embaixo do pão na frigideira. Essas coisas que a gente cria pra reforçar o valor da vida. Filho nenhum vai me arrancar o café da manhã. Minha geléia de morango na terceira fatia de pão é sagrado.

Domingo, segundo de maio. Que alegria, quanta gratidão. Mas hoje é dia de lavar a cozinha. Dia de encontrar faca perdida embaixo do fogão, tampa de pote atrás da lixeira, e de bebê escorregando na frente da geladeira porque o chão ficou molhado um pedacinho.

O meu presente, caro leitor ausente, você deve estar se perguntando. Foi um livro. Que eu escolhi, com uma dedicatória de 140 caracteres que eu mesma lembre não esquece da dedicatória. E nela dizia, pasme: como eu melhorei ~ MELHOREI ~ como mãe. Eu sei que melhorei. Na verdade, eu sei que só agora eu virei de verdade. Mas criticar mãe dos outros é erro antigo, de quem não tem tino social algum.

O livro, eu encontrei na cama. Sem abraço de filho, sem abraço de pai. Mas eu quis te fazer surpresa. Ah, perdão. Eu que entendi errado, então.

Fui pro quarto, chorar um pouco. E estranho, não chorei por mim. Chorei forte e novamente mais uma tristeza sem causa, mais um erro sem culpado. Acho que veio a dor das mães que não tem seus filhos para abraçar mais, ou filhos que há pouco tinham suas mãezinhas, mas que se foram em meio a pandemia. Veio a dor da Fabiana, que novamente não abraçou Sophia, e minha mãe, que não pode abraçar suas duas filhas e dois netos.

Eu não estou feliz com o dia das mães. Mas paciência - como todos os dias.