sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Poesia pra deixar claro que acabou.

O ano acabou. Apressado e sem escrúpulos. 
Arrancou lágrimas, gargalhadas, cócegas, fios de cabelo, gorduras, humores, parentes e dentes.
Esgotaram-se os dias como biscoitos. Escorreram como água de louça lavada.
Corajosamente, levaram dores vividas e inventadas. Perderam o controle, afanando pessoas.


O ano fez de um tudo. 
Mostrou verdades e espelhos de mentira. Enxerguei desejos que nem meus eram.
Assisti a ensaios de erros. Espetáculos de acertos. O ano me empurrou guela adentro uma vida repentina.
Regurgitei a tempo. Juro que não era minha.


O ano titubeou.
Levou-me à dúvida, à dívida, a tremer a pálpebra.
Congelei diante da vida adulta. Escolhi ter certezas, e foram dias de pernas firmes.


O ano levou embora o sonho, deu espaço a realidade conquistada.
O ano estilhaçou a redoma, deixando o ar pelas narinas adentro.
O ano estendeu a ponta dos dedos. Eu fiquei na ponta dos pés.
O ano se espreguiçou para os próximos que o seguem. Bocejei pros dias que se passaram.


Custou viver estes dias. Suamos manhãs, tardes e noites.
Demos vida ao ano. Amamentamos dois mil e onze. 
Não foram gratuitos, os dias. 
Foram noites mal-dormidas para entender o que se passava no coração das manhãs.


Centenas de vezes os dias tentaram chegar a algum lugar.
Deram passos, desmoronaram. 
Adormeciam e tentavam.


Os dias seguiam, se amontoavam. E o ano desistiu de ser. 



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

domingo, 11 de dezembro de 2011

Da covardia vaidosa




















Arrastei por dias a mentira de não querer mergulhar

Lutei com unhas de palavras contra o sentir
disfarcei anseios
cuspi pro alto 
os desejos que não couberam em mim


passei por terras lameadas de meu coração
chafurdei na lavagem que alimentou-me de ilusão
e como ave vindo de longe
cacei abrigo dentro d'alma
buscando o sentido de tamanho calar


olhos, dedos, boca
estômago, diafragma 
máquina harmônica e sinalizadora
indica falha de sistema de fuga


e cansei.


retomei os versos
meio tortos ao começo incerto
pintei o rosto de coisa alguma
enfrentei letras e leituras
mostrei a cara para outras de natureza mais dura
que amolecidas de poesia
sorriram feito desconserto


molhei os pés com sede
esfreguei os dedos no rosto frio
abracei meus versos como quem ama
voltei a sorrir na coragem
frente ao desafio 

Estou atravessando uma estiagem poética. Envergonhada, não sei se escrevo pra sanar ou se calo dignamente até surgir uma 'grande' inspiração.
Acontece que essa súbita vontade de escrever não vem e tudo que me resta é pensar com poesia.
Respiro idéias sem modéstia.
Mas elas se pulverizam na rotina. Palavra por palavra. Desmontam-se na minha frente com desprezo e deboche. E sobra o frangalho do desejo de escrever.