terça-feira, 23 de maio de 2017

estar só é um desembainhar de espada todos os dias. escolher estar só para enfim, ser de verdade. é deixar vir todos os clichês que remetem ao medo do desconhecido, o medo de ser sozinha e a bravura da luta, da travessia, do enfrentar dos dias. estar só é ter a capacidade de deixar o mundo de lado para viver pra dentro. ouvir seus próprios barulhos, seus desejos e acima de tudo, seus silêncios. a beleza da convivência, do compartilhar de tempo e espaço, do expor os dias para a pessoa amada é condição valiosa de vida. mas não essencial. os dias terminam e eu não tenho com quem dividi-los. e se, por ventura, essa frase te soou como derrota, como tadismo, reescrevo intransitiva:
os dias apenas terminam.
e não ter com quem dividi-los é tarefa pra uma mente que se preparou. chegar até onde cheguei, com a lucidez que me presenteei. foi preciso um investimento moral. ir e voltar todos os dias à vida que tive para compreender a vida que eu tenho. e cada vez que me olho no espelho, acrescento uma nova habilidade. sem vaidade, sem egolatria. sinto "apenas" uma grande parceria com meu eu que desabrocha. "tenho em mim todos os sonhos do mundo."


sábado, 6 de maio de 2017

"...quando a gente se sorri, é o mundo que sorri."

quanto tempo falta para que a minha respiração deixe de ofegar nos minutos que antecedem os teus olhos?
quanto tempo ainda tenho para desfrutar do branco dos teus dentes que tanto se mostram quando estou por perto?
quanto ainda me sobra de certeza do quão bem te faço? e quanto me resta do que posso calcular que sou capaz de fazer?
quantas noites silenciosas concluirão meus dias com seu rosto desenhado no breu?
quanta arte ainda irá despertar no meu espírito que por tanto tempo se concretizou em uma vida automática sem criações?
quantos recadinhos de gratidão cafona escreverei e por quanto tempo esse amor irá me encorajar por compartilha-los contigo?
quantos detalhes do teu corpo eu celebro por descobrir sem nunca poder conhecer?
quanto de perfume resta no frasco que se esvazia nas respirações profundas que dou à distância quando te cheiro na sua ausência?
quanta distância sentida irá se apagar no momento em que te encontro, sempre com o calor de uma primeira vez?
quantas lágrimas alegres derramarei sorrindo - com toda verdade que meu coração é capaz de sentir - quando noto a verdade da inteireza da sua presença quando somos dois - no nosso silêncio confortável?
quantas músicas perturbadoramente lindas e descompassadas me lembrarão nossas psicopatias e bobeiras que a ninguém atingem?

quanto tempo me resta desses dias, embebidos numa bruma de um amor que nem sei se amor é, mas que eu desfruto, que me toca com a ponta dos dedos, conduzindo dias, decisões, poesias, que tem um cheiro bom, da coragem de ser, um gosto apurado e sem açúcar do que é abstrato, do que não é coisa alguma, sentido sequer sentimento, mas que tem todo tempo do mundo para existir nos meus dias, sem pressa, sem nome, sem ponto de interrogação para dar o tom desse parágrafo que estamos escrevendo.

(Título: https://www.youtube.com/watch?v=KgByzAEJI24)