O cinema era no mesmo bairro
No bairro onde os cinemas se confundem
Era a mesma ordem dos fatos
Invertemos apenas as poltronas
Para vermos um outro Petit
Eu voltei ouvindo Tiê
Enrolada no meu lenço blasé
Vivendo lembranças eu sei lá porquê
E confesso estar rindo dessa rima clichê
A comidinha foi no mesmo shopping.
Habituados com as mesmas gordices
Habituados com esses domingos doces cheios de sal
O mesmo sal que faltou na pipoca disputada
Onde quem venceu
foi a moça que não levou um beijo seu
Então eu me pergunto
Quem beijaria um indivíduo,
desses que não se encontra em qualquer esquina
desses que às vezes desatina
e senta na mesa (em cima)
e eu queria encaixar um ''menina''
mas essa rima não termina
apenas estraga uma estrofe
Eis que o filme acaba
a luz acende
a lágrima seca
e perdem-se no ar as lembranças de outros tantos
que reviveram aos encantos
artimanhas de ter sido um Nicolas
Dá-me aqui o meu caderno!
(e minha caneta!)
Presta atenção no que eu falo!
(E quem será que ganhou a Copa?)
Todos os diálogos interrompidos
pelas risadas e dentadas
(inclusive a criação) ("prestenção...")
Vencida pelo orgulho
escrevi dentro do ônibus
soltei algumas palavras presas
certas outras eu preferi guardar
no cansaço de escrever, no medo de mostrar
Dentes num braço que fica roxo semanalmente
Um dedo no olho só de vingancinha
Um beliscão na barriga por mera vontade
Uma batalha travada por excesso de sentimentos
com derramamento de ketchup inocente
odeio o Gabriel.
odeio ketchup.
odeio ketchup no Gabriel.
odeio Gabriel com ketchup.