terça-feira, 26 de abril de 2011

"Fica feliz que vai funcionar"

dessa vez não existe poesia, apenas a Vontade querendo me expor.
vontade com vida própria que carrega letra maiúscula pra dizer que já é personagem
E Já faz algum tempo que decidi não me colocar no comum, convencer-me de que sou um ponto fora da curva. por pura vaidade mesmo.
mas os dias me levaram e me trouxeram para cá. onde a realidade vive.
aqui é tudo meio frio, meio cinza, meio certo.
Relutei (eu até reluto, mas há quem diga que sou fraca para isso.)

Juro que dessa vez não há poesia, não há coisa alguma além de mim.
Daquela que falta muito pra ser alguma coisa.
E de certo minha auto-estima se faz presente. Não perene.
Mas existe e tá aqui às voltas de tudo, envolvendo os outros.
É a minha auto-estima que segura a pemba quando a torre vai desabar.

Em padrões de mundo, sou uma pessoa feliz
em padrões de felicidade, sou uma pessoa do mundo
gargalho, imploro, festejo e me jogo
detesto, canso, desgosto, calunío

sofri repetidas vezes por diversa gente, mas é a minha culpa que me maltrata
é aquela maldição de amor largado que me faz amar tanto e sofrer aos poucos
(mas a mentira sutil é feita de poesia pois que sofro aos montes por gente que nem existe)
e ando sempre fingindo
e jurando que a vida andaloka e rosa
mas a vida é real e vivo assim com pincel em punho
fazendo dos dias essa mentira amarga de sorriso largo

posso postergar o desabafo contradizendo tudo que já disse
e prometer uma alegria que sou capaz e só eu sou.
mas tem sido o calvário dos dias fingir harmonia e saudar meus dias

e agora, mudando de pólo, estou a pesar consciência e me julgar maldizendo a vida.
assim dentro do mesmo grito, estou com antipatia íntima por estar escolhendo essas palavras
e ontem mesmo afirmei que não escrevo mais por tirar de mim o que não queria admitir
e semanas atrás me fiz doce no conformar
e no ano que passou dei de mim até secar para sobreviver do que doía.

e agora, que isso virou poesia e a Vontade me confessa gostar disso,
admito que de dia em dia agradeço a vida por emprestar gente que me machuca
e choro por entender que aquela dor toda é merecimento
e sorrio cada vez que entendo o porquê e corrijo

e sei, como quem nasce sabendo
que muito mais que de poesia, gosto de crescimento

domingo, 24 de abril de 2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Que me desculpem os desesperados, mas solidão é fundamental para viver.
Sem ela não me ouço, não ouso, não me fortaleço.
Sem ela me diluo, me disperso, me espelho nos outros, me esqueço.
Não penso solto, não mato dragões, não acalanto a criança apavorada em mim, não aquieto meus pavores, meu medo de ser só.
Sem ela sairei por aí, com olhos inquietos, caçando afeto, aceitando migalhas,
confundindo estar cercada por pessoas, com ter amigos.
Sem ela me manterei aturdida, ocupada, agendada só para driblar o tempo e não ter que me fazer companhia.
Sem ela trairei meus desejos, rirei sem achar graça, endossarei idéias tolas só para não ter que me recolher e
ouvir meus lamentos, meus sonhos adiados, meus dentes rangendo.
Sem ela, e não por causa dela, trocarei beijos tristes e acordarei vazia em leitos áridos.
Sem ela sairei de casa todos os dias e me afastarei de mim, me desconhecerei, me perderei.
Solidão é o lugar onde encontro a mim mesma, de onde observo um jardim secreto e por onde acesso o templo em mim.
Medo? Sim. Até entender que o monstro mora lá fora e o herói mora aqui dentro.
Encarar a solidão é coisa do herói em nós, transformá-la em quietude é coisa do sábio que podemos ser.
Num mundo superlotado, onde tudo é efêmero, voraz e veloz a solidão pode ser oásis e não deserto.
Num mundo tão estressado, imediatista, insatisfeito a solidão pode ser resgate e não desacerto.
Num mundo tão leviano, vulgar, que julga pelas aparências e endeusa espertalhões,
turbinados, bossais, a solidão pode ser proteção e não contágio.
Num mundo obcecado por juventude, sucesso, consumo a solidão pode ser liberdade e não fracasso.
Solidão é exercício, visitação.
É pausa, contemplação, observação.
É inspiração, conhecimento.
É pouso e também voo.
É quando a gente inventa um tempo e um lugar para cuidar da alma, da memória, dos sonhos;
quando a gente se retira da multidão e se faz companhia.
Preciso estar em mim para estar com outros.
Ninguém quer ser solitário, solto, desgarrado.
Desde que o homem é homem, ou ainda macaco, buscamos não ficar sozinhos.
Agrupamo-nos, protegemo- nos, evoluímos porque éramos um bando, uma comunidade.
Somos sociáveis, gregários.
Queremos amigos, amores.
Queremos laços, trocas, contato.
Queremos encontros, comunhão, companhia.
Queremos abraços, toques, afeto.
Mas, ainda assim, ouso dizer: é preciso aprender a estar só para se gostar e ser feliz.
O desafio é poder recolher-se para sair expandido.
É fazer luz na alma para conhecer os seus contornos,
clarear o caminho e esquecer o medo da própria sombra.
Ouse a solidão e fique em ótima companhia."
Autor desconhecido

domingo, 10 de abril de 2011

já fui verde, já fui rei, já fui Sid.
Fui coisa breve, coisa prolixa. Fui profunda.
Já fui Lóri, já fui ostra e fui Lily.
Por mais que previa fui Eleanor Rigby.

Hoje pisco os olhos, coço,
me despenteio e me vejo
cada vez mais
Viviane.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

das artes à Arte

o trabalho dignifica o homem
mas arranca-lhe os versos
o trabalho exercita a mente
mas atrofia suas emoções
torna homem escravo do que te alimenta
mas sente fome de poesia

o homem que se automatiza
perde sua alma infantil
perde a alma que mobiliza
suas muitas palavras sutis
é o homem que vive os dias
[homens que conta os dias]
homem à prazo com data de validade

cuida da poesia para não esquecê-la
alimenta - gás, líquido que reacende
solidifica o poeta que trabalha
e a mão que mensura
é a mão que percorre papel
parede
pele

o homem que toca
é o homem que sente
é o homem incerto
oniciente

homem-poeta
que esquece o presente

come a vida a sua volta
sufoca o que te prende
e bebe da fonte onde transborda
daquilo que te preenche.