quarta-feira, 14 de junho de 2017

não sou dada aos barulhos. eles me arrepiam. acaba de passar pelos meus ouvidos um ruído seco, metralhado, de um carro com um homem pequenino que coleta lixo nos arredores de onde estou: no meio do nada, esperando ninguém, ou quem vier. livro aberto há 6 meses como todos os outros. do amor e outros demônios. abri. uma página e um roer do ar nas minhas costas. um ruído novo e temos um arrepio. não pude distinguir se era frio ou uma honesta vontade de explodir o motor que arruinava meu cérebro por segundos.
pequenos espaços e seus barulhos. gargalhadas do que nao posso rir, ou não vi graça alguma. vozes finas senão as minhas, que faço em descontrole ou amorzinho.
acabei de perceber como sou insuportável quando amo em descontrole.
por isso, venho te dizendo. os barulhos me arrepiam. os pacotes, os alaridos. os toque-toques dos passos de quem me vem e eu não vejo. tenho nervos frágeis apesar do largo sorriso. uma moto estoura o cano de descarga neste segundo. só pode ser de sacanagem, escuto claramente a voz dos meus pêlos gritando por toda nuca.
tenho amado essa conversa com o corpo. máquina fiel, performática, e adaptativa. tenho apreciado sensações, observações e o fascínio da voz que ele emite. fala todo os dias, como um deus que ordena, acolhe e assovia. sussurra em diminuto som: "os barulhos me arrepiam".