domingo, 6 de junho de 2021

Já não é nova a aflição sobre conservar ou reler minha espiritualidade. Muito anos navegando em conceitos que me trouxeram até aqui, com decisões que me orgulho ter tomado. Doutrinada na coerência da fé, fui alimentada em valores inegavelmente belos, mas que me distanciaram da realidade. Todos os dias resta a pergunta sobre os espaços que habitaria não fosse a batalha moral que travaram no meu lugar.

Mas de tanto chegar sem minhas pernas, as perguntas perderam a coragem de ser. E a aprendizagem deu espaço ao silêncio da aceitação. E da separação, fez-se o fim. A oportunidade de ostrar. 

Sozinha e sem pressa, o discurso estudioso perdeu significado e forma, dando vez ao exercício de ser. Não estou cabendo em lugar nenhum; não sei se por expansão ou encolhimento. Se por arrogância ou constrangimento.

Pensar Deus e a individualidade.

Investigar a criação e criar.

Estudar para compreender e experienciar.

Tão ocupados com nossa jornada, os dias tem sido tão histéricos... Consigo sentir a energia contida dentro da minha barriga, falando alto em forma de dor. O meu corpo pede uma serenidade que irá me levar pra onde eu fugi. 

Percebo que quero encerrar, mas a paz orgasmante de quando encerro as palavras não veio. Então por quê? Ou não me permito maldizer a minha trajetória, ou essa reflexão falhou miseravelmente. Ou é a certeza da minha superficialidade, que insiste - em forma de mãe - em dizer que escrevo mal. Ser muito pouco pra ela sempre foi a minha maior aflição.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Não saber onde se quer chegar

Desassossego sempre foi um prazer. Produz bons frutos, minha escrita amarga, um estranhamento de quem lê, tentando localizar quem é essa mulher que ninguém enxergar nos dias. O olhar do outro me contemplando como avessa, como difícil de entender. Esse é o papel que exerço nos espaços, me deliciando com as palavras de incentivo de quem cada dia sabe menos sobre mim. 

Mas a mesma pessoa que incomoda, é que pede desculpar por ser. Rir com todos, chorar com alguns, e não se cansar de buscar permissão pra existir. Um medo de não dar conta da personagem, e admitir ser medíocre. Escrever é tudo que me dá certeza de não ser igual a todos. Tira-me as palavras, e sobra um prato raso que não dá conta de coisa alguma. 

Portanto, estou aqui - colocando força na tarefa de ser diferente. Dando espaço pra sensibilidade que o mundo insiste em enterrar junto com toda dor que está pairando sob nossos narizes. Dando voz para todos os pensamentos que estão presos nos meus dentes, intestinos e pálpebras cansadas de tremer. Nunca querendo tanto entender pra onde ir, mesmo habitando onde sempre procurei. Esvaziada de moralismo, escolhendo meus erros a dedo.

É a primeira vez que me sinto perdida tendo encontrado tanto de mim.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Nunca foi tão urgente dizer qualquer coisa pra liberar espaço pra ser.

Há dias que propago uma habilidade que perdi. Os mesmos dias que minha mente tem efervescido a necessidade de escrever mais.
Talvez o peso da consciência, talvez o sufocamento, talvez a vaidade.
O fato é que as palavras vem no banho, vem no pendurar das roupas, vem enquanto a gente joga uma fralda repleta na lixeira do corredor do prédio, pro cheiro da casa não se ocupar do que tanto me exaure.
Cansada de ser levada pela água, pelo vento, as palavras vieram compulsórias, do jeito que deu.
Pois então, não sei se escrevo sobre os homens, sobre filho, sobre a pandemia ou sobre o glúten.
São tantas as perturbações, é tão todo dia tudo.

Há semanas eu percebi que não escrevo poesia, mas que escrevo prosa dando enter. Isso significa absolutamente nada porque as palavras são minhas quando de mim saem, e a forma tem o tamanho da minha aflição. O que me motiva dá muito mais estrutura do que o estilo.

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Eu tenho permitido meus descontroles na medida que eles surgem, e delegando a cada íntimo a tarefa de me ajudar. Estou pedindo socorro há muito tempo. Em silêncio, pra não incomodar. Não está funcionando, então estou devagar, dando responsabilidades àqueles que prometeram. "Justo a mim, coube ser eu."

Aos que chegam, eu fotografo a cena e dou a liberdade de permanecer ou fugir. Aos velhos - habituados a essa histeria periódica - imploro cuidado e palavras de futuro.

Estou muito assustada.
Estou sem saber o que me assusta, mas estou muito assustada.
Eu enfileiro os problemas na minha frente, nenhum grave, nenhum existe, talvez.
Ou todos minúsculos dão as mãos, se esticam, e juntos se parecem maior que eu.