a vida te aconteceu e eu não te soube. não descobri se seu abraço era apertado ou distante. e não poderei ser a bajuladora-conquistadora-barata que olha nos olhos dizendo que cheiro bom você tem. porque eu te vejo naquela foto de cabelo bem branco bem curto, e ali sinto um perfume de sabonete muito gostoso. do banho pra receber gente em casa. não ficarei sabendo se virá de você a frase 'gostei dela' ou 'vamos vendo não é, meu filho?'. é um sem fim de perguntas. todas tão estranhas de se dizer em voz alta. resta a coragem apenas para uma: que lugar poderei ocupar sobre a tristeza da sua ausência repentina?
sinto saudade do que desejei descobrir de você. sinto falta de nunca ter te escutado falar da monja, de jesus, de religiosidade sem religião. de livros que nunca terei disposição pra ler, mas tudo bem porque você falaria deles com paixão e eu apre(e)nderia suas palavras ditas.
estou sentindo dor legítima. e é a dor da inutilidade. do ego gritando por não poder ser a presença do luto que reconhecem publicamente. o ombro que é todo do meu amor está vazio e não poderá acolhê-lo no momento exato-agudo-sufocante. desconheço sua voz. mas conheço a cada dia o que você entregou de mais gigantesco para a terra. meu muito obrigada por tanto.