a palavra sem vontade injúria laboriosa emergem em desagrados nos frios mármores, viscosa. escorrem pelas lâminas, trocadas em neurose afirmada, despem-se em transparências por tantas vezes, por quase nada e o silêncio diário que rejeitou meus dias tem comido meus sorrisos, minhas alegrias tem trucidado minhas virtudes e os que dela desfrutaram varreu as venturas da lembrança do que foi vivido idealizado
Entristeço-me ao pensar que estou só, desespero-me e lembro que sempre estive. Eu peço ajuda, disfarço uma lágrima e falho. Deixo cair o restante.
Esforço sobre-humano, músculos retraídos e a vontade de falar "estou repleta". Já se passaram muito meses, anos, até, quem sabe, a vida.
Eu não encontro. Só vejo farrapo humano, só vejo sombra e desejo de ser o que não será. Não será porque não deve. Ou não pode? Onde é o limite? O que reserva o depois? Que tipo de realidade aguarda, que realizações, que parcerias, que amores. Terá amor? Quem decide isso? Eu, não. Não é assim que tem funcionado. Porque "se fosse como poderia ser, não seria desse jeito que poderia ir". A gente cospe, escarra e só sair bíle. Só sai água. Só sai "o de sempre".
Vai viver do quê? Não sei. Vai viver aonde? Não sei. Vai estar com quem?
Isso importa?
A gente cresce, projeta, desenha, idealiza, espalha.
Mas espalha tanto que pulveriza.
Vira pó, vira granulado, vira qualquer coisa, mas não ganha vida.
Fica nos papéis, nos rabiscos. A vida pára no rascunho. Então, na pressa de entregar o pronto, vira o pouco, vira o "a gente faz o que pode".
Nesse meio-tempo fiquei pensando em que momento eu realmente escrevi.
Quando ouço tais pedidos sinto-me cronista aposentada de jornal de grande circulação; quando não, penso que me fazem de chacota e aguardam aquelas palavras vazias para rolarem de rir.
Afinal, onde foram parar as palavras que tantas vezes arrancaram-me beijos apaixonados e galanteios fugazes?
Que diabos fizeram da minha veia literária? Por que cargas d'água permiti que se entupissem de frieza?
Procuro uma estatina capaz de limitar a formação dessa estupidez irreversível. Desespero-me ao deparar com a total incapacidade de escrever, e o mundo emulsionar na minha frente.