domingo, 30 de julho de 2017

dia desses conheci um homem.


Francês, direto e poeta. Nunca acreditei que essas virtudes seriam miscíveis. Eu te juro que a poesia é virtude. Paul Valéry. "Seu amor não correspondido por Mme Rovira precipitou uma crise que o levou a renunciar à poesia e a consagrar-se ao culto exclusivo da razão e inteligência."

Morreu junto com a morte da II Guerra em 45, mas sem estragos.

Ele me colocou diante de uma vergonha de pensamento arrogante-contemporâneo. Que ser pensador social antes de Zuckerberg, de Orkut Büyükkökten, me impressiona. É o último grito na lucidez mental espiritual, que não demandou socialização extrema para se dar a certas conclusões da doença das relações. Prova um gole: Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade.

***

Carrego uma auto-promessa que é a de escrever sem a máscara poética. E cercada de tantas palavras duras vindas daquele corpo pequeno que me trouxe ao mundo, escolhi hoje. Normalmente eu a chamo de mãe. Mãezinha, linda, fofinha, momõe. Só que hoje... A doçura escapuliu. A poesia saiu correndo. O sol se pudesse, desbrilhava. Mas não pôde. Assim como eu: não posso tirá-la da função como uma peça de encaixar. Se eu pudesse. Só por hoje... Só por hoje? Que mentira. São tantos os dias, os anos, os fatos. Milhares de vezes a maternidade se desencaixa, descombina, perde a mão. Mancha-se. Perco a mãe. 

Não tenho dúvida alguma que ela não calcula nem mede. Ela apenas fala.
Cospe dor em formatos de palavras e segue. Fico com aquele cheiro de desgosto e lide com isso, minha filha.

Por tantas vezes eu sou minha própria mãe.
A gente que se equilibre com estes pratos.
A gente. Nós.
Já faz tanto tempo que sou unidade na experiência de aguentar.
É cliché de filha machucada, sim, mas é que o corte é tão profundo e tão sempre.

Só tive tempo de abrir a porta e me fechar. Despi-me de roupa, lembrança, vitimismo.
Encarei o espelho, literalmente, pra chorar todas as águas. Escoei as mágoas, e escolhi admitir que está difícil.
Quando nos desmascaramos pra nós mesmos, não há decepção. Há encontro.
Som e fúria também é meditar. Basta ser presente.

É preciso ser leve como o pássaro e não como a pluma.

Entendi que a sua frustração é não me ver caminhando a vida que ela desenhou dentro da própria cabeça. Dos seus planos A e B, não pude seguir nenhum.
Estou completamente fora da curva normal da filha da mãe.

Se eu tenho uma curva normal? Tive.
Por sorte desenhei de lápis.
Já apaguei.
Claro que ainda ficou ali, resquícios bem marcados de uma vida que não deu certo. Um vale profundo no papel, soltando ecos de frustração. Vozes que me freiam e me desencorajam.

Quando jogo luz sobre a sombra, vejo tudo.
E me alegro nessa visão, de uma maneira até um pouco assustadora.

O problema do nosso tempo é que o futuro não é o que costumava ser.