segunda-feira, 28 de setembro de 2020

não vale

a vontade é de me ajoelhar
abraçar tuas pernas com força
beijar por detrás dos joelhos
e clamar
por uma linearidade que nem eu mesma quero

é que hoje me vi tão abalada
e tão novamente

porque ruidosamente nos amamos
e desamamos dentro da minha cabeça
tantas vezes
quase que de maneira lunar

tanto tempo, dessa vez
esse cansaço arranhou mais fundo

tanto gozo, que veio aquela velha exaustão
de acender cigarros e querer distância

ciclos

choques

os jogos

uma vontade de lanhar o rosto

respiro
não a ofegante de ontem
mas a amigável
o ar que segura na mão

dar meia-volta
estaca zero
pra retomar a escalada tensa que inventamos

como é bom suar os dedos no próprio corpo
pra segurar o ímpeto de chorar palavras duras
que sequer significam
que dirá atingem

com força digo de toda dor
nesse espaço que não mais nos simboliza

mas escolhi escrever
trêmula como ontem
mas com dedos sem paixão
repletos de uma mágoa generosa
que sofre mas torce

enfim
orgasmei palavras cheias de
de amor e de vida
caminhei sob teus olhos
segurei o choro
virei na primeira esquina
e cai.