quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Encerra um ano silencioso. O ano de coisa alguma e o de todas as coisas.
Encerram-se os dias de dor, das lágrimas e dos gritos.
Nascem os dias límpidos.
Brancos.
É chegada a hora de viver só... E repleta.

Foi um ano apaixonante... Amei a vida, amei a família, amei o trabalho.
Amei aquele que não existiu.
Amei o engano. Criei fantasias, desenhei estórias. Apaixonei-me por personagens.
Eu vivi dias que não aconteceram. Aumentei os momentos, impactei demais a minha memória com coisas pueris.

Finda um ano que não aconteceu.
Estou arrancando esta página do meu caderninho amarelado. Não há mais Chico pra cantar, poesias pra fazer, Clarice Linspector pra guardar na gaveta.
Tudo que foi este ano foi pra debaixo do tapete. Pra nunca mais sair.

Restou a coragem, a vontade e o sorriso.
Ainda bem.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Uma vida toda de uma só vez.

Um amor novo, um desamor novo também. Um velho conhecido.
Uma compra exorbitante na internet. Uma vida nova e satisfatória.
Todas as temporadas de Friends pra chamar de minha.
Um conquista nova. Uma formatura, um convite da ex-melhor amiga.
O vestido de sempre, com um beijo novo. O gosto de álcool, sem a velha companhia.
A maquiagem borrada, a gargalhada histérica.
Um novo eu sem identidade. O antigo, ralo abaixo.
O velho grande amor no coração, a lágrima caindo e o copo na mão.
Os mesmos amigos. Amigos novos. Um bebê à caminho.
O medo do futuro. A coragem pro futuro. Um carro. A futilidade ocasional.
Um reveillón diferente. A estranheza da solidão. O excesso de companhias.
As muitas escolhas. Ansiedade e destruição. Briga de egos. A saudade.
A vontade de mudar. O conforto de ser igual.
A vida seguindo, eu de peito aberto,
enfrentando a mim mesma,
os fatos inoportunos e todos os meus jugos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dois dias

Parece que foi ontem que você arrancou uma fatia do meu corpo.
Parece que foi ontem que olhou fundo nos meus olhos, prometendo a vida.
Parece que foi ontem que destilou minha alma e a sugou pra seu armário.
Parece que foi ontem que me deixei levar pelo gosto bom da tua vida, pela fantasia que me conduzia.

Parece que foi hoje que sentaste ao meu lado em silêncio.
Parece que foi hoje que pacientemente explicou pormenores da vida, do caminho a ser seguido.
Parece que foi hoje que sorrimos escandalosamente dos nossos erros e nos denominamos amantes corajosos.
Parece que foi hoje que nos deitamos pela última vez no calor de outubro para reviver as teias que nos prenderam por noites eternizadas.

Parece que vivemos pouco.
Parece que vivemos demais.
Parece que se quer nos conhecemos.
Parece que a vida parou pra nos olharmos, tocarmos, sentirmos.

Ela estalou os dedos, o tempo voltou a correr e jamais nos amaremos outra vez.

domingo, 13 de dezembro de 2009

m e n i n a

Pra ela eu sou perfeito
Eu sou algum pirata
Pra roubar seu sono
Um herói que mata

Eu sei que ela deseja
Que eu seja essa ameaça
A dose de coragem,
A emoção que falta

E eu tenho tanto medo
Será que tarde ou cedo
Eu me sinto dividido entre princípios e desejos
Ela tem tanto medo
E eu não sou nem metade
Da metade da metade
Do que eu quis ser de verdade

Gastei tempo em nada
Da forma errada
Mas deixei o melhor pro fim
Nem pirata, nem herói que mata
Pra você: o melhor de mim

Enquanto eu brinco de pirata
De brinco e tatuagem
Eu quase viro escravo dessa personagem
Se ela encosta no meu peito,
A cabeça no meu ombro
Sou eu que perco o sono
Pra ela eu sou perfeito

E a gente é tão pequeno
E acha que move o mundo
E se perde em vaidade
E se acha sempre tão profundo

Acho que todo medo
É de não ver segredo
Mas o segredo é não ter medo
De morrer por seus desejos

mulheres, dinheiro, iate.

Talvez ele leia. Talvez nem saiba que existe. Talvez meu sentimento seja cru.
Talvez meu peito esteja nu. Capaz de ser passageiro. Capaz de ser verdadeiro.
E nada temos em comum. De todo sentimento resta nenhum. E eu estou acordada,
gastando a noite num texto desconexo. Uma história sonolenta que não dura o tempo que vale.
Quanto me resta pra sentir, é o que move minha existência.
Hoje intensifiquei. Hoje pude ser eu. Você foi o que sempre foi e estamos caminhando em paralelo.
Duas retas que não se cruzam, e nada a matemática tem a ver.
Podem pensar que minto, podem pensar que sofro, podem pensar que simulo.
Nada sei do que há em mim, e como me encanta essa supresa pessoal.
Ah, esse amor fantasia pelo que nada me atrai. Ah, como é duro fugir da arte e do que ela me traz.
E encontrar um alguém tão sagaz, e essa rima foi propositada, planejada, pra fazer piada,

pra dormir em paz.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Hoje Thaís teve um insight. Vivi teve enjôo. Comeu demais. Mas vai ser tia. Enjoada é Fabiana, que está grávida. De Guilherme, ou Sofia. Em Curitiba uma criança cresce. Amada e esperada. No Rio alguma morre porque não havia vaga nas UTI neonataL. Eu gostaria de trabalhar em hospital. Mas a curiosidade não é grande suficiente. Grande é minha bolsa de estágio. Grande é o apreço pelo que faço. Grande é o sorriso de hoje à noite. Estava comendo profiteroles e gargalhando. Aí fiquei enjoada. Fabiana vomitou. Mas Thaís será uma jornalista cultural-designer-consultora de moda-maquiadora-fotógrafa-quase inglesa. E vida que segue. Com ou sem a criança morta num hospital do subúrbio.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

linha de raciocínio

eu não sinto medo da tristeza. eu sinto tristeza porque quero. quando ela chega eu sossego, eu silencio e deixo tomar conta. penso na vida, nas pessoas que chegaram, nas que saíram. eu não tenho medo da solidão. ela me faz companhia quando a tristeza vai embora. eu temo do que a alegria é capaz. ela afugenta os sentimentos. ela toma conta do que somos, ela define o caminho. ela invade. tenho muito medo do que invade. as pessoas invadem. elas falam, elas interferem. elas ferem.

eu tenho medo das pessoas.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

''Pra desaparecer precisa estar quente de verdade.''

Quando eu caminho, olho em volta. Todo tempo da minha vida é gasto da mesma forma: vivendo. Eu não empurro. Eu não murmuro. Eu perturbo minha própria calma, eu sacudo meu corpo, eu estapeio meu rosto, eu acordo sempre. Eu presto atenção nas pessoas. Eu convivo.
Eu tenho raiva do silêncio. Não do silêncio sábio. Tenho raiva do silêncio cômodo. Do que não se compromete. Eu adoro me comprometer. Eu adoro vínculo. Eu amo a depedência. Não a dependência do outro, do indivíduo. Mas a dependência do olhar, do sorriso. Eu dependo do convívio. Eu não me esquivo das pessoas. Eu vivo aberta. Eu não me arrependo. Já me arrependi. De não viver. Bati cabeça na parede por ter sido muito imersa. Acho graça dos internalizados. Sinto pena, às vezes. Eu ando pelo mundo. Eu não me arrasto pela vida. Eu cuspo palavras. Pensadas. É preciso. Descartes.

Sábias palavras em uma caneca.

domingo, 15 de novembro de 2009

Aglutininas da mente

Quando paramos pra prestar atenção
na situação nua
Quando desenvolvemos nossa mente
Pro sentido de não envolver mais,
Quando a gente se anula
É quando a gente desfruta
É quando a gente se intitula
Donos da noção
E aí o pranto faz-se riso
E faz-se o alívio
E o peso vira bagagem
E a dor vira bobagem.

Sou Eu (Álvaro de Campos)


Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,

Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! …

domingo, 1 de novembro de 2009

Talvez esse não seja o melhor momento pra me expor.
Talvez nem tenha o que expor.
Talvez essa não seja eu.
Talvez eu nunca tenha sido alguma coisa.

Eu queria cavar, cavar até criar bolhas nas mãos e me enterrar.
Queria gritar. Quero. Eu grito.
Não funciona. A dor existe e sempre existirá. Não sei o que escrever, não sei como me colocar. E se não for pra colocar coisa alguma?

A vida parece que foi concretada. Parece que tem uma parede enorme erguida na minha frente; preciso de muito esforço pra saber o que há por detrás desse muro. Posso quebrá-la, posso escalá-la. Posso dar as costas e voltar. Posso sentar e esperar os anos passarem e todo aquele cimento ser decomposto. Ser erodido. Sofrer ações da natureza. Do tempo.

Tempo... Meu único e forte aliado. Meu melhor amigo.
Ele que vai me mostrar quem eu sou.
Quem eu quero ser.
Quem eu devo ser.

domingo, 4 de outubro de 2009

Enquanto eu terminava o único pedaço de pizza,
ele bebia um copo de leite
depois de seus dois pedaços
com a maioria das azeitonas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009


"Era enfim a vida real, com meu coração a salvo,
e condenado a morrer de bom amor na agonia feliz
de qualquer dia depois dos meus cem anos"

(Gabriel García Márquez)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

solicitação

Produto acabado

Identificado

Mensurado

Pesado

D e s i n t e g r a d o


um bando

um riso

um descuido

perde-se a palavra,
a rima cala

a idéia falha.



terça-feira, 15 de setembro de 2009

Abri os olhos
Fui ao banheiro fazer xixi
Sentei à mesa para tomar café
Banhei o corpo de forma preguiçosa
Vesti minha roupa displicentemente
Saí de casa para viver
Acordei.
Abri a casa para fazer xixi
Fui à mesa de forma preguiçosa
Sentei minha roupa para tomar café
Banhei o banheiro displicentemente
Vesti os olhos
Saí do corpo para viver.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Guia prático: Como fazer doer em 10 passos



Primeiro passo: Encontre alguém e deixa-se cativar.

Segundo passo: Dê apelidos únicos que te faça sorrir ao lembrar (p.ex. Teco, Doce-de-leite, Boriclaudo, ...) .

Terceiro passo: Comuniquem-se, falem ao telefone, mandem-se e-mails... E lembre que essa pessoa existe, várias vezes ao dia.

Quarto passo: Assuma seu amor. Diga coisas como "não vivo mais sem você".

Quinto passo: Comprem coisas iguais. Ou apenas copie o que o outro já tem (p.ex. mochila, chinelo, blusas de encontros - preferencialmente espíritas, pois são os que emocionam, os que mexem com suas fraquezas)

Sexto passo: Tenham vidas bem diferentes, sem horários que coincidam, de forma que quase nunca se vejam.

Sétimo passo: Receba a notícia de uma breve viagem. E, aos poucos, deixe sua ficha cair.

Oitavo passo: Pegue as músicas de memoráveis lembranças para adicionar ao pendrive do estágio.

Nono passo: Alimente a situação de forma a tomar proporções bem maiores.

Décimo passo: Despeça-se duas vezes - entrando no ônibus correndo, com muita pressa e com um telefonema breve antes do embarque, de forma a não lembrar nada de importante para dizer.

domingo, 30 de agosto de 2009



Passam-se as horas

lágrimas prontas, impetuosas
ansiosas para escorregar
por esses olhos ressecados.

Não haverão manhãs como estas

felizes
não irão desejar dias belos

sinceros
Não olharão pra mim com esses olhares

constantes
curiosos

Nosso sorriso não estará estampado
será saudosista, apático.

As horas estão passando
minutos escorrem entre dedos e dentes...
perduram, entristecidos.

Poucos passam pelo que passo.
Se apagam diante do engano
pensam continuar vivendo
Sei que não.
Partes morrem
migalhas ficam
.
Pelos cantos. Pelas paredes.
Pelo ar. Pelo chão.

Gargalhadas, trocadilhos
Dentes cerrados, olhos de ressaca

Não quero - nunca mais

passar pelo que estou passando
viver o que estou vivendo
Quero esquecer a dor desse dia
Tortuoso. Eterno. Frio. Vazio. Último.

14/01/2005 - último dia secundarista

domingo, 19 de julho de 2009

Olhar pra dentro
Sentir o peito arfando em saudade
Viver o medo,
viver o medo e a liberdade.
Joelhos flexionados,
dedos tocando a terra
Pegar os grãos, criar quimera.
Estou sozinha, repleta
No ostracismo, aberta.

as horas da oportunidade.

Centelhas e rompantes
de alegria e solidão
Filtrando esses dias
Pulverizando na escuridão

sábado, 27 de junho de 2009

Metilando-me

Preparei os olhos, preparei o quarto, preparei os outros.
Esqueci de preparar minha mente, não sei como o faço e no fundo, não quero saber.
Não consigo aceitar que existe uma escolha que precisa ser feita. Dói.
Dó do meu coração que não sabe conviver com esse sentimento. Alguns anos de vida e poucos momentos de abandono. Isso gerou uma baita auto-estima... Que está prestes a desabar.

Noites mal-dormidas é tudo que tenho. Sonhos, dores no peito, ânsias de vômito.
Em pensar que esses são os mesmo sentimentos do inverso da situação. São os mesmos tremores da paixão, da ansiedade pelo novo. E confessamos, não deixa de ser a mesma coisa.
Estou batendo à porta da vida nova. Estou às vésperas do nunca vivido. Estou em pânico.
Estou num transe esquisito que não me deixa fazer qualquer escolha. Talvez saiba porquê, talvez, não.
Eu não sei o que é isso, eu não sei do que preciso, só sei que dói. Só sei que sinto pena de mim mesma, do meu futuro.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Junho

Num torpor de ocupações,
perdendo prioridades,
recebendo ordens
e vivendo às pressas.

Às preces.

sábado, 20 de junho de 2009



O que somos realmente
é aquilo que guardamos
reservamos


É o quem nós não sabemos


É o que sentimos

domingo, 14 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

clausura cíclica


na perpétua dualidade
entre razão e emoção,
na corda bamba da (in)decisão.
persiste na vida delgada, sem escolhas.
abre a gaveta
entende a ocasião e escolhe a melhor delas,
colorida, preta, branca
a que brilha, a que apaga
a mentirosa, dissimulada ou a franca
se cabe falar, calar,
agredir, convencer,
se finge que cala,
se finge que fala
se finge fazer
mas chega a hora
em que a face incha
olhos se esbugalham
o que esconde se desespera
a máscara já não cabe mais
o mundo te examina, avalia
enlouquece sem decidir
corre sem agir
se esconde pra viver.

domingo, 7 de junho de 2009

"Ser covarde...
Ter medo da vida, ter medo da morte, ter medo de si próprio...
Ser covarde é ser desgraçado. Ser covarde é não ter fé, não ter esperança, é viver sem viver.
A covardia anula a criatura. O covarde não caminha, porque tem sempre medo do que o aguarda fora do seu âmbito.
Ser covarde é paralisar-se."
(C. Pinto)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Intempérie

Foi uma semana árdua. Foram dias difíceis, onde a Doutrina foi posta a prova. Pela primeira vez perdi uma pessoa de forma "definitiva" e me vi em desespero. Vanderléia Carraro, 25 anos, presente no vôo Rio-Paris. Um sonho, um desejo ardente, uma listinha de compras dos amigos, o primeiro vôo de avião, o medo, saudável, a ousadia, a alegria. Vanvan. Passou por minha vida por breves 6 meses, deixando uma marca maravilhosa, a lembrança de uma menina alegre, que sabia tratar o próximo, que era cheia de objetivos. Como as tantas outras 227 pessoas que estiveram com ela. Um resgate coletivo, como chamamos, difícil de aceitar naturalmente. Uma viagem cheia de indivíduos onde a bondade no coração era a característica que predominava. Coincidência? Nem preciso responder.

sexta-feira, 22 de maio de 2009


a palavra sem vontade
injúria laboriosa
emergem em desagrados
nos frios mármores,
viscosa.
escorrem pelas lâminas,
trocadas em neurose afirmada,
despem-se em transparências
por tantas vezes, por quase nada
e o silêncio diário
que rejeitou meus dias
tem comido meus sorrisos,
minhas alegrias
tem trucidado minhas virtudes
e os que dela desfrutaram
varreu as venturas da lembrança
do que foi vivido
idealizado

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Antraceno ou p-terfenila?

Entristeço-me ao pensar que estou só, desespero-me e lembro que sempre estive. Eu peço ajuda, disfarço uma lágrima e falho. Deixo cair o restante.
Esforço sobre-humano, músculos retraídos e a vontade de falar "estou repleta". Já se passaram muito meses, anos, até, quem sabe, a vida.
Eu não encontro. Só vejo farrapo humano, só vejo sombra e desejo de ser o que não será. Não será porque não deve. Ou não pode? Onde é o limite? O que reserva o depois? Que tipo de realidade aguarda, que realizações, que parcerias, que amores. Terá amor? Quem decide isso? Eu, não. Não é assim que tem funcionado. Porque "se fosse como poderia ser, não seria desse jeito que poderia ir". A gente cospe, escarra e só sair bíle. Só sai água. Só sai "o de sempre".
Vai viver do quê? Não sei. Vai viver aonde? Não sei. Vai estar com quem?
Isso importa?

A gente cresce, projeta, desenha, idealiza, espalha.
Mas espalha tanto que pulveriza.
Vira pó, vira granulado, vira qualquer coisa, mas não ganha vida.
Fica nos papéis, nos rabiscos. A vida pára no rascunho. Então, na pressa de entregar o pronto, vira o pouco, vira o "a gente faz o que pode".
Ah, mas pode pouco assim?
"Você poderia ter feito melhor que isso..."




Ok, então faz você.

terça-feira, 19 de maio de 2009

exílio lírico


No anseio de encerrar estes versos

Que me enraízam em claras noites no assento

Procuro palavras adequadas

Que de tão rudes, às vezes, lamento.



Há muito me questionam sobre voltar a escrever.

Nesse meio-tempo fiquei pensando em que momento eu realmente escrevi.

Quando ouço tais pedidos sinto-me cronista aposentada de jornal de grande circulação; quando não, penso que me fazem de chacota e aguardam aquelas palavras vazias para rolarem de rir.


Afinal, onde foram parar as palavras que tantas vezes arrancaram-me beijos apaixonados e galanteios fugazes?

Que diabos fizeram da minha veia literária? Por que cargas d'água permiti que se entupissem de frieza?

Procuro uma estatina capaz de limitar a formação dessa estupidez irreversível. Desespero-me ao deparar com a total incapacidade de escrever, e o mundo emulsionar na minha frente.

Quase cinco anos de mudez.







domingo, 8 de março de 2009

Quero ter essas pernas amanhã.


Amanheci pensando em criar, pela primeira vez, uma poesia para mim mesma. Algo bem narcisista, "Ode a Viviane". Mudei de idéia. Concordei em escrever nada, pensar em nada, curtindo a fossa do último dia.
Tomei banho, abri a janela e abri os olhos, porque nada melhor do que acordar e não abrir os olhos por um tempo. Deparei-me com um belo dia e lembrei que hoje era aquele dia que homens de todos os tipos fingiam ser um tipo só. O que valoriza a alma feminina. Nós fingimos que acreditamos e dia 9 tudo volta a seu lugar.
Não para mim, sendo amanhã o dia da minha mãe, que estará completando 56 anos de beleza, paciência e um pouco de descontrole. Nenhuma celulite, unhas feitas, cabelo cor-de-mel, cheia de sardas e uma frescura sem igual.

Uma gracinha sem dúvida.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Riacho Fundo II


Ele me pediu um projeto.
Eu disse que não dava.
Ele insistiu, aleguei não ter como nem quando.

Quando eu sentir aqueles cachos ressecados e escuros tocando meu rosto outra vez, irei confessar que aceitei.