domingo, 29 de agosto de 2010

305 dias

Percebo que ainda posso ser surpreendida. Percebi que os meses vão passando pela minha frente e, por mais que eu queira me enganar, dói. Dói a dor dos rejeitados, dói a dor dos que não foram capazes de gerenciar o sentimento. Dói calado, porque não cabe mais falar, não cabe mais chorar, nem sofrer em público.
Percebo que não se completou até então um dia sem que a lembrança viesse até mim, sorrateira, me mostrar como fui feliz.
E como fui tola. Como pude ser capaz de pensar que estarias sempre ao meu lado mesmo sendo eu tão sonsa e mesquinha. Em verdade digo que amei tanto que tranbordei.
Temos uma lista de planos não concluídos, viagens não feitas, palavras guardadas, sentimentos congelados. Temos uma vida que não acontecerá. Tudo está em nossas gavetas.
Neste domingo reinicia-se o ciclo que marcou nosso começo. Estarei às voltas com parentes e lembranças mais fortes. Cheiros. Os mesmos cheiros da casa acolhedora virá até mim por meio deles.
O cheiro doce do 2º andar.
A dor de lembrar do cheiro dói mais que as demais dores. Dói sem controle. Invade as células olfativas sem que possamos mediar. É uma lembrança selvagem. Faz rir, faz chorar, faz qualquer coisa que movimente meu pensar.
Hoje tenho você mais forte em mim.
Hoje estou apaixonada pelas lembranças. Pelo que existiu em mim, pelo unilateral.

10 meses.