Eram das poucas horas da madrugada, daquelas que permeamos entre o sonhado e o vivido. Morgana falou algumas tantas coisas sobre ter partido para sempre. Deixou vestígios de pensamentos na barca e em minha cabeceira, perto do Carlos Heitor Cony e do Molière.
Adormeci, não certamente, mas entendi desta forma. Constatei que estava em minhas velhas terras lembradas, todavia não pude mensurar o quão velhas eram, pois não fui capaz de distinguir Avalon de Juazeiro ou de Cartagena.
Lembro de cruzar um velho túnel de Botafogo, com poucas luzes. Ao meu lado pude reconhecer meu filho, Lancelote, e senti vergonha por aceitar chamá-lo desta forma, como que por um apelido juvenil. Percorremos a extensão completa do túvel quando a cena se enturvou e fui dar conta de mim dentro da barraca de camping dos Weasley. Fui me encontrar onde te determinei ausente, onde te desenhei morto.
Em seu lugar, vi uma harpa.
Gastei uns incontáveis minutos descrevendo mentalmente aquela imagem. Perdi palavras que precisava e encontrei algumas que sequer existiam. Era uma harpa enchuzena, malepina e sifonostélica, podendo até dizer ectoflóica. Sua madeira era deprimida, colabada e achatada, de conteúdo castanho. Melodiava alguns encantamentos que eu mesma criei. Materializei mãos nodosas quase tufadas que a dedilhavam desgraçadamente, reproduzindo um som encantado e absurdo que dançava entre a satisfação e o desespero.
Eu, Viviane, Senhora de Avalon, representante viva da Deusa, Grã-Sacerdotisa, me vi a mercê dos meus sonhos, percorrendo o pedregoso caminho do desconhecido. Tateando cenários etéreos.
Se era sonho, se era Visão, se eu controlava ou não, era algo indistinto.
Entre a fantasia,
o fantástico
e o fantasmagórico.
Eu era eu e era ela, eu era mãe, tia e Deusa. Era senhora de mim, caminhando para o fim dos meus sonhos.
Acordei num chute, a 70km/h, numa liteira a caminho da realidade.
Prochain arrêt: Champs-Elysées
Adormeci, não certamente, mas entendi desta forma. Constatei que estava em minhas velhas terras lembradas, todavia não pude mensurar o quão velhas eram, pois não fui capaz de distinguir Avalon de Juazeiro ou de Cartagena.
Lembro de cruzar um velho túnel de Botafogo, com poucas luzes. Ao meu lado pude reconhecer meu filho, Lancelote, e senti vergonha por aceitar chamá-lo desta forma, como que por um apelido juvenil. Percorremos a extensão completa do túvel quando a cena se enturvou e fui dar conta de mim dentro da barraca de camping dos Weasley. Fui me encontrar onde te determinei ausente, onde te desenhei morto.
Em seu lugar, vi uma harpa.
Gastei uns incontáveis minutos descrevendo mentalmente aquela imagem. Perdi palavras que precisava e encontrei algumas que sequer existiam. Era uma harpa enchuzena, malepina e sifonostélica, podendo até dizer ectoflóica. Sua madeira era deprimida, colabada e achatada, de conteúdo castanho. Melodiava alguns encantamentos que eu mesma criei. Materializei mãos nodosas quase tufadas que a dedilhavam desgraçadamente, reproduzindo um som encantado e absurdo que dançava entre a satisfação e o desespero.
Eu, Viviane, Senhora de Avalon, representante viva da Deusa, Grã-Sacerdotisa, me vi a mercê dos meus sonhos, percorrendo o pedregoso caminho do desconhecido. Tateando cenários etéreos.
Se era sonho, se era Visão, se eu controlava ou não, era algo indistinto.
Entre a fantasia,
o fantástico
e o fantasmagórico.
Eu era eu e era ela, eu era mãe, tia e Deusa. Era senhora de mim, caminhando para o fim dos meus sonhos.
Acordei num chute, a 70km/h, numa liteira a caminho da realidade.
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