sábado, 25 de dezembro de 2010

da família Columbidae


Onde começa e termina.
O que é sentido e vivido.
O que se faz igual, movimenta, sacode, espalha e muda.
O que é saudável. E o que é pensar?

Frases que não vieram na cabeça, não foram rascunhadas e sequer soam poesia.
Hoje resolvi escrever vomitando, cheia de reticências como certas coisas novas que tenho lido.
Coisas vindas de uma fonte querida, cheia de vitaminas e sais minerais.
Frases reticentes, exclamantes, exalantes. Frases que têm cor e cheiro. Sentidos de vitória, quase renascimento.

Hoje eu vou quebrar o que se espera. Vou dizer que sou feliz e toda dor que eu transpiro em versos não passa de uma grande mentira. Vou escarnecer sorriso e fazer piada da incoerência da minha poesia. Vou colocar três exclamações nas frases de impacto pra provar que sou capaz de perder essa arrogância que tenho ouvido por aí. Eu vou dizer que amo isso tudo a minha volta. Vou dizer que estou mega auto-ajuda e devo isso a onda de novas informações que recebi ainda pouco, me fazendo quebrar uma sequência de 'EU SEIs' que coloquei na minha mochila. Venho ultrapassar meus medos, esbravejar meus anseios. Ser juvenil. Quero erguer o peito, encolher a barriga, abrir as narinas pro cheiro de maresia, pro suor vindo de um sol esperado; o que tenho pra dizer é que de um dia que não esperava muito, ganhei mais. Engarrafei o vento, troquei o sentido da palavra e substitui um líquido por outro. Eu me hidratei. Preciso dizer que fiz poesia e anotei na mente. Fotografei com os olhos e vou guardar longe do mofo das idéias velhas. Vou contar pro mundo que existe um lugar onde as aves gorjeiam juntas e todas são ouvidas. Hoje aprendi a escutar. Escutar uma risada e pensar que é a melhor coisa do mundo.

E não fui muito distante.
Fui ali, na parte onde o silêncio é presente, a vida é clara e os passos são poucos, mas muito largos.

Cheia de Egos. Lutando contra todos. Vencendo alguns muitos.

Àquele que de tanto, virou muito e agora não sai mais.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cromatografia líquida de alta eficiência

lua encosta clara
toca meu rosto espalha
sente meus dentes lisos
não tão brancos
beges de vida fatigada

lua assusta falha
faz que inebria mas treme
tola em alma que envolve
encanto cai perene

lua derrete chora
aflora sentidos de luz própria
nua perdoo volto
forço um amor a lua
nuca arrepia
sente outra vez escuta

lua pura certa vez puta
sorri recua lua ecoa acordes
desmonto penso vejo
lua intenta conta
monta imagem barra miragem

lua mãos cheias peito arfante
mata morre faz viver mentira
grave reprime quando olho
lua só permite voz mão boca
palavra para ludibriar
mão em minha saia leve alada
boca em silêncio tangente que sufoca.
todos vedados, no seu devido lugar
em disposição planejada
em classificações necessárias
por tempo
por temperatura
por parte do corpo
por sentimentos
todos poupados de seu papel.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

esse silêncio me fala muito mais que qualquer grito.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

antes da erosão

chora, natureza, chora
molha este olho, esta nuca
mostra o que se cobre
descobre meu segredo
invade, constrange
Por Deus, me fale
se vale
se realizo
Anuncia-me o sol
pago o malogro
compenso a malícia mortal
mas poupai, lágrima celestiais
que mais água
dessas irrepresáveis
dessas de sentimentos puídos
derrame pelo peito
barriga joelhos dedos
precipita neste chão rachado
percorre assoalho
que eu fico aqui
assim como quem se molha
e se seca
como quem insiste em choque
chuva, estanque a dor
lavra-me o solo fértil
livra-me da culpa.

sábado, 4 de dezembro de 2010

entrei no quarto, a luz estava apagada.
"por que está deitando do outro lado?"
"é o calor..."
e tudo ficou fora de lugar. é disso que falo...
esse lugar que é o conforto das coisas nos seus devidos espaços. onde todos dormem no seu lado da cama, onde todos dialogam francamente sem a idéia ilusória, sem o "tem mais coisa aí".
Não tem nada.
Não deveria ter.
"eu te amo, independente de qualquer coisa"
"e esse qualquer coisa, vem de onde?"
"é porque você me irrita muito."
"ah tá, boa noite"

curtos assuntos da noite de sábado que me fizeram reaver outro.
um abre-fecha de aspas que me esgotou o pensamento e me fez ter certeza: tudo está fora de lugar.
eu já não consigo mais convencer, conversar, constatar.
Dei uma volta inteira no meu temperamento.
E tem dias que não chego a conclusão alguma.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Apanhador de Desperdícios - Manoel de Barros

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios

domingo, 28 de novembro de 2010

ah, os líquidos...
essa sede.
essa sede de suor, lágrimas e outros tantos que escorrem pela vida acontecida.
essa sorte de se achar a solubilidade ideal,
que combina com perfume,
cheiro de cabelo,
violino
e encaixe.

passei meus dedos nas costas e senti arrepio.
sem escolher a ação, o movimento conduziu disparo elétrico.

minha sinapse diz l'instant.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Escrever sobre Ana Clara

Existem duas na minha vida.

Ana Clara prima de Lucas, mas que ama Gabriel. Seu outro primo.
Tem a Ana Clara que olho de longe. A Ana Clara que eu sinto ciúme.
A Ana Clara que, de tão próxima, eu sinto dor. Dor por ela. Dor pela dor de Ana Clara.

A primeira eu conheço há pouco. 2 horas. Uma voz fina, fraca, fanha. Ana Clara de boca suja de chocolate.
É a clara por assim dizer. Clara de idéias, certa de escolhas. Com seus poucos anos sabe do amor e do valor do rosa com lilás. Seja numa chupeta, seja na sua motinha. Aninha doce, pura e cheia de esperança no dezembro.

Outra Ana pede pra ser dita. Ela não chora, não poupa, essa Ana não sei.
De muitos amigos, de vida ambígua. Ana Clara feita de nuvem, caminha na linha do fim.
Fim da linha para Ana Clara. Ela morre. Fruto de muita semente, Ana Clara sem popa, muita casca.
Seu sorriso me incomoda. Sua forma de viver me faz julgar Clara. Inventou seu próprio apelido que diz ser forte, que de tão forte eu esqueci.
Ana Clara se despede sem chegar.
Eu aprendi a encarar Ana Clara. Ela existe, atrapalha, confunde. Mas é ela. A única capaz de me fazer sentir o que achei que nunca sentiria. Sentimento de deixar pra lá. Ana palma planta pelo cabelo igual. Muito de mim tem em Ana, muito de Ana vejo em mim.
Eu nunca a vi. Eu não pretendo vê-la. Tem ares de quem mata só de ver. Ana Medusa Clara. Clara quimera. Quem dera não existisse.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Café, biscoitos e nozes cinco vezes

Escrever direto. Escrita como há muito tempo não é feita. Mentira.
Mentira... mentira... mentira...
Lembrança. Risinho. Eu estou a tarde inteira deitada, pensando na apresentação que fiz, no esforço que foi montar tudo aquilo e receber um elogio. Passou. Passei... Não, ainda não.
Ah, que saudade de sair escrevendo e ser lida sem a menor, a real menor intenção de agrado. Mas sei que é dessa forma que cativo mais aquele que lê, pela graça que é tentar entender, ao menos acompanhar.
Sentada, deitada, coberta, desnuda. À vontade. Edredon, frio, calor, memória e tarefas.
Eu estou fingindo que curto esse nada, mas com um tremelique no peito de quem quer tudo. Quero tudo, todos, a todo momento do meu jeito. Gosto muito das coisas do meu jeito. Mas acho uma delícia ter que me adaptar. Acho gostosa essa proposta de tangenciar, de cercar, até ajeitar. É prático sem mudanças. É estático. É uma merda.
Voltando. Volto pro olhar vago em volta. Envolta no vento do ventilador barato, desfrutando da energia que não pago. Deitei... Parei para pensar em escrever mentiras. Mentira. Gosto muito de mentir. Essa ânsia agigantada pela invenção. Refresco os interespaços do meu cérebro com uma mentira bem contada. Eu gosto de mentir para mim mesma. Principalmente. É tudo maravilhosamente conveniente. Silêncio saudável nesse apartamento. Muito pano sobre mim, o vento artificial já citado. Na minha esquerda alguém finge que estuda. Parasitas, verminoses. Giardia Lamblia... Taenia Saginata. Solidão perfeita, estou feliz como uma solitária intestinal. Corte minha cabeça, se for capaz. À direita, alguém finge que dorme. Olha. Mentira. Uma breve descrição que só ilustra mesmo. Falta coisa na vida. Falta gente aqui. Falta de verdade.
Acabei de quebrar uma xícara que não é minha.

domingo, 14 de novembro de 2010

Algumas coincidências não são suficientes. Algumas palavras ditas ao mesmo tempo não bastam.
Preciso é que se queira tentar. Preciso pois é o sentimento autêntico que se compõe um estar junto. Preciso se faz na dúvida, no medo, no tremor. Querer por talvez, querer por falta de coragem, na ausência do não, dizendo por ser, não constrói.
Trata-se por tantas vezes de tentar, não cuidando de não errar. Erra-se com gosto e zelo por si. Zelar pelo outro vem depois. Mas logo vem. Se tarda a chegar, passa o tempo de espera e tudo se perde no abismo das coisas razoáveis.
Adjetivos regulares não se dispõe para isso. Falo de intenções intensas. Falo de tremer, de doar, falo do lugar comum que é o amor.
Falo do que não sei.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

o terceto que podia ser meu

"o homem que amo me chamou forte
não sei se sou, não sei se o amo
mas esse, me parece, é homem."

Vento


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

emudeci

sua boca, pelos, olhos.
Todos me calaram.
Encontraram seus espaços.

Quimiotaticamente
foram percebendo seus sítios em meu corpo e me fizeram silenciar.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Status da dor*

Só se faz poesia com dor de mentira. Não mexa com as palavras quando você sofre de verdade.
Quando as lágrimas que rolam pela maçã do meu rosto são reais como sangue que escorre de ferida profunda, não cabe uma linha de coisa alguma.
Queira sofrer e queira tentar.
Verá que sairão frases vazias sem o peso da tristeza mentirosa.

Pra isso e preciso sentir o peso da palavra, que só pode ser medido na balança do instante entre o pensamento e o ato... Porque passado o instante - já que antes se chamava dor, a semântica do tempo passa chamá-la nostalgia.

E é a nostalgia que nos permite ser poetas. É 'na falta de' que os versos são fortes e táteis.
É quando a dor passa a ser crônica. Porque dor aguda só nos dá versos mornos. O sentimento, ainda grudado, não é capaz de transcrição.

São brumas, pura e simplesmente.

Fleur e Petit

*criação inacabada de um diálogo distante entre espelhos



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

um pra lá outro pra cá

estando juntos ou separados
passam-se os dias de dedos entrelaçados
dedos de mentira, de gesso moldado.

nós que nem nada somos
afirmando, negando, contradizendo
nessa relação que não existe coisa alguma
nessa coisa que não existe relação.
nós que juntos fomos e não voltamos
dividimos travesseiros de penúria
que somavam seis no total
[em nossa cama de invenções

com sentimentos feitos de caracteres
eu, envergonhada com valor que dei,
hoje pago pelo silêncio
imploro por conseguir longitude

você, deslumbrado com sua correções
afogado nas suas convicções
cheio de você mesmo dentro do seu peito de lata
tentando agir como se a música não fosse acabar

pega minha mão, rodopia meu corpo
suplica pela minha alegria.
eu, dedos nos seus dedos
estico meus braços-pós-rodopio
me enveredo ao som do bolero cafona
faço que estico pra me embolar outra vez
mas não volto, desfaço o passo
saio pelo salão, numa dança sozinha
e finjo que não aconteceu.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

poesia de ônibus outra vez.

A gnt nem nota q vive
Tem uns tantos meses q tô nessa
Dsligada do q passô
Sofrendo p hobby
Tendo tantas maos
[correndo em minha cintura
A gnt nem nota q skece

Dsencanada dos teus vacilos
Dandos alguns passos ousados
Foi preciso ficar só pra saber o que posso

E agora vibro pelos dias contentes
Vivo os dias presentes
Nem escolho as palavras
Não ilustro com erudição
Troco pernas num prosecco
Me despenteio, pinto os olhos
Descontruo uma imagem lapidada
Sei que o ridículo
, esse que acompanha uns tantos,
pressente uma história comigo
Mas não me descuido do gosto
e não corro perigo.

Peço perdão aos vocábulos
Por pecar nesses versos
No fundo sou eu mesma
Difusa, Clarice, intrépida
Apenas tentando simplificar.

domingo, 26 de setembro de 2010

Foi quando me dei conta...

...que eu estava novamente me indispondo pra vida.
Que estava tensionando o sentimento de modo a não poder caminhar docemente por eles,
de forma que andasse sobre brasa.
Nos ais e uis da contrariedade, perdi a esperança de ficar junto daquele que alguma coisa foi além de mim.
Quando pensei que ia sorrir, chorei.
E me desvinculei desse amor breve.
Desgostei das tantas coincidências e parei de alimentar lembranças do que não aconteceu.

E notei que fico muito mais bonita, assim, desiludida. Ma(i)s poética.

domingo, 12 de setembro de 2010

quando a poesia mudou de rumo.

Hoje acordei torta, acordei morta, acordei pronta pra viver
Desculpei os silêncios, relevei as atrocidades e deixei passar a estupidez.
Sua estupidez que não deixa ver que eu te procuro.
Essa blindagem deveras grossa e grosseira que nos faz distante

Estou partindo pra cada vez mais longe
Seguindo prum caminho reto sem vida que me faz marear
Que me dá vertigens de tédio.
Sem a menor perspectiva de galgar nossos passos
Sem mais estreitar laços

Arranho minhas paredes tirando a tinta das idéias falsas
Rabiscando o reboco com sonhos inalcançáveis
Revirando o cimento no estômago cheio de suco de esquecimento
Sumo dos novos gostos
Exsudato infeccioso que me move a aceitar a repetição do acontecimento.
Exatidão dos sentidos mal dosados que nos faz acreditar em espelhos.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

reconhece-te a ti mesmo (I)

"Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!"


Fernando Pessoa

domingo, 5 de setembro de 2010

dos sempre decepcionáveis

quanto tempo dura em você aquilo que esconde?

quantas voltas você dá pra manter aquilo que foi dito?

quanto vale a mentira pra preservar a verdade que preferem ver?

Amanheci quando já era de tarde.
Prostrada na cama, recuperando as forças, pensei no que existe dentro de mim e que sentimentos andam sendo cultivados.

domingo, 29 de agosto de 2010

305 dias

Percebo que ainda posso ser surpreendida. Percebi que os meses vão passando pela minha frente e, por mais que eu queira me enganar, dói. Dói a dor dos rejeitados, dói a dor dos que não foram capazes de gerenciar o sentimento. Dói calado, porque não cabe mais falar, não cabe mais chorar, nem sofrer em público.
Percebo que não se completou até então um dia sem que a lembrança viesse até mim, sorrateira, me mostrar como fui feliz.
E como fui tola. Como pude ser capaz de pensar que estarias sempre ao meu lado mesmo sendo eu tão sonsa e mesquinha. Em verdade digo que amei tanto que tranbordei.
Temos uma lista de planos não concluídos, viagens não feitas, palavras guardadas, sentimentos congelados. Temos uma vida que não acontecerá. Tudo está em nossas gavetas.
Neste domingo reinicia-se o ciclo que marcou nosso começo. Estarei às voltas com parentes e lembranças mais fortes. Cheiros. Os mesmos cheiros da casa acolhedora virá até mim por meio deles.
O cheiro doce do 2º andar.
A dor de lembrar do cheiro dói mais que as demais dores. Dói sem controle. Invade as células olfativas sem que possamos mediar. É uma lembrança selvagem. Faz rir, faz chorar, faz qualquer coisa que movimente meu pensar.
Hoje tenho você mais forte em mim.
Hoje estou apaixonada pelas lembranças. Pelo que existiu em mim, pelo unilateral.

10 meses.

sábado, 28 de agosto de 2010

Clarice me disse


"... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.

Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer.

Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.

Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi.

E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteiro com a alma também.


Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso."

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Eu, Senhora da Magia

Eram das poucas horas da madrugada, daquelas que permeamos entre o sonhado e o vivido. Morgana falou algumas tantas coisas sobre ter partido para sempre. Deixou vestígios de pensamentos na barca e em minha cabeceira, perto do Carlos Heitor Cony e do Molière.
Adormeci, não certamente, mas entendi desta forma. Constatei que estava em minhas velhas terras lembradas, todavia não pude mensurar o quão velhas eram, pois não fui capaz de distinguir Avalon de Juazeiro ou de Cartagena.
Lembro de cruzar um velho túnel de Botafogo, com poucas luzes. Ao meu lado pude reconhecer meu filho, Lancelote, e senti vergonha por aceitar chamá-lo desta forma, como que por um apelido juvenil. Percorremos a extensão completa do túvel quando a cena se enturvou e fui dar conta de mim dentro da barraca de camping dos Weasley. Fui me encontrar onde te determinei ausente, onde te desenhei morto.
Em seu lugar, vi uma harpa.
Gastei uns incontáveis minutos descrevendo mentalmente aquela imagem. Perdi palavras que precisava e encontrei algumas que sequer existiam. Era uma harpa enchuzena, malepina e sifonostélica, podendo até dizer ectoflóica. Sua madeira era deprimida, colabada e achatada, de conteúdo castanho. Melodiava alguns encantamentos que eu mesma criei. Materializei mãos nodosas quase tufadas que a dedilhavam desgraçadamente, reproduzindo um som encantado e absurdo que dançava entre a satisfação e o desespero.
Eu, Viviane, Senhora de Avalon, representante viva da Deusa, Grã-Sacerdotisa, me vi a mercê dos meus sonhos, percorrendo o pedregoso caminho do desconhecido. Tateando cenários etéreos.
Se era sonho, se era Visão, se eu controlava ou não, era algo indistinto.
Entre a fantasia,
o fantástico
e o fantasmagórico.
Eu era eu e era ela, eu era mãe, tia e Deusa. Era senhora de mim, caminhando para o fim dos meus sonhos.

Acordei num chute, a 70km/h, numa liteira a caminho da realidade.
Prochain arrêt: Champs-Elysées



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"O que eu gostaria de dizer"


Tento negar pra mim mesma, todo dia, toda noite. Tento explicar com palavras firmes e certeiras, tento sufocar essa bruma rósea que paira na minha frente. Tento fingir que os dias não são melhores e que os risos não são nada além de hábitos. Estou tentando me enganar. Sorrateiramente, sensações invadem minh'alma abandonada. Sinto meu corpo ser esterilizado em cada canto que mofava em desamor. Vejo nuvens densas abandonando meus passos, dando espaço para a doçura dos dias vividos. Aceito de bom grado as chances de viver em paz e com o calor de se estar feliz. "Não há melhor lugar para estar do que estar contente" Eu nem sei onde estou, em que nível de contentamento eu parei. Não sei se chamo isso de satisfação, muito menos se tem um nome. Mas sei que desejo a intimidade dos dias vividos e a leveza dos sentimentos ofertados.

não nego não explico não sufoco não finjo não me engano

Sei que não passam de instantes e que posso perdê-los no momento em que alguém tiver a coragem e o prazer que tive em se esforçar para te proporcionar o que propus.
Alguém melhor, alguém digno, alguém que lhe seja suficiente.

Como eu não sou.

domingo, 15 de agosto de 2010

afinidade é dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois

Encontrei este texto nos papéis juvenis de mamãe. Ela colecionava coisas do Arthur da Távola desde muito novinha. Li estas anotações umas três vezes. Senti um misto de emoções que não soube distinguir se era carinho pela minha mãe, carinho pela semelhança da nossa juventude e pensamento, carinho pelo Arthur da Távola ou pelo que dele saiu, pois é um texto atemporal, transparente e aplicável (e eu me dei conta de que essa palavra cabe não só nos laudos de análise do meu laboratório).

Anfã, degustem...

''A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente, também.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro,
quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem
para buscar sintomas com pessoas distantes,
com amigos a quem não vemos, com amores latentes,
com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.''

(Arthur da Távola)


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Quando cansei de esperar você (sobre o dia que acordei)

a vida se indispôs pra mim.
depois impôs a obrigação de sobreviver

e, finalmente, pôs as formas definidas na minha frente para que eu pudesse entendê-las.

Quando cansei de esperar você
Alcancei notas mais graves e passos marcados
Regularizei a desordem na minha cabeça
o caos que eu entendia e controlava.

Comecei a frasear orações curtas de fácil entendimento.
Apaguei algumas luzes acesas desnecessariamente
Aprendi que palavras técnicas podem soar bem poéticas

Minha mão e meu pé passaram a me educar.

Passei a carregar comigo sonhos que atendem por outros nomes
Sonhos que gostaria de citar, mas esqueceria de outros tantos,
e sonhos têm seus melindres.
Quando cansei de esperar você, entendi o clichê e o seu porquê.

Vi a minha vida mudar de cor.
Ela andava em tons pásteis, ocasionalmente pintada das cores que você determinava.
Meus dias foram cinza quando os problemas eram seus
Atingiu tantas nuances a sua maneira, até enferrujar por completo.
Até que não havia mais cores para enxergar e distinguir.

"Minha alegria voltou, brilhando no alvorecer
Quando deixei de amar e esperar por você."

(Escrito em 17 de abril de 2010)

domingo, 8 de agosto de 2010

Ela dizia que parecia uma despedida...

...E eu renascia.

Ainda me lembro. Vagamente, eu sei. Nunca fui bom em detalhes. Ela dizia que isso era egoísmo. Eu nunca concordei.
Ela era doce, era certa, era voraz. Mas não era ela. Como num susto, aconteceu uma explosão.
Ela se fez em mil pedaços e não havia mais porquê tê-la comigo.
Jamais pensei reduzi-la a tão pouco. Mas aconteceu.

Ok, mentira.

Acontece que sempre tive a certeza de que ao seu lado não daria. Era mesquinha, cruel e sutil.
Tornou minha vida uma chatice medíocre. Desenhava meus passos, pisava nas minhas palavras e depois voltava de coração sangrando.
Não sei se por inveja, ciúme ou qualquer outro sentimento pequeno, você me ridicularizou a cada instante que se via ameaçada na sua velhice precoce.
Eu te amei de verdade. Eu me vi feliz por muitas vezes. Ela tinha tantos encantos.

Mas sua insegurança me estressava. Cheguei num ponto máximo de fadiga emocional.
Por tantas noites dormi chorando, por tantos dias abri mão de tantos planos. Por muito pouco perderia minha juventude.
Você, que não viveu intensamente por duas décadas, queria roubar as minhas. Se ao menos quisesse revivê-las ao meu lado. Mas, não. Pra você era mais cômodo privar-me dos meus anos. Não seria glorioso pros seus planos não me ver definhar.

Só que eu acordei. E vi que a vida sem você corre mais rápido.
Eu perdi você, e ganhei o mundo.
Você que era doce, se fez amarga.

Te pintei lindamente numa tela e vi as tintas escorrerem tecido abaixo.
Eras um cascalho no meu sapato.
Você pra mim virou espinho, virou dor, virou um peso.
Eu dei as costas a você e fui feliz.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

recapitular

Estou a uma semana sem inspiração.
Não consigo pensar, não consigo escrever, muito menos sentir.
É difícil se quer acreditar, quão menos admitir o porquê da desinspiração.
Me incomoda concordar.

Certa vez, ele me disse que quando estamos doídos somos poetas.
Quando estamos aflitos, somos almas inspiradas.
Hoje eu sou capaz de viver sem fechar os olhos contra a poeira dos meus dias.
Eu sou capaz de andar no vento sem o medo de ser carregada.

Mas sou indigna de uma inspiração decente.

Eu me vejo tão senhora de mim que não escorre de mim uma droga de um verso.
Deito-me em silêncio, acordo com lápis e papel. Não deixo escapar um sopro de idéia.
Mas não é suficiente.

"trocamos confissões, sons,
no cinema, dublando as paixões
movendo as bocas
Com palavras ocas
Ou fora de si
Minha boca
Sem que eu compreendesse
Falou c'est fini
C'est fini

Tantas palavras
Que eu conhecia
E já não falo mais, jamais
Quantas palavras
Que ela adorava
Saíram de cartaz"

terça-feira, 3 de agosto de 2010

(in)versos

Lentamente cubro meus dias de medo
Experimento a dor de ficar calada
Inspiro o ar dos desvalidos de amor
Reanimo as quimeras da incerteza
Borbulho o ácido dos instantes sem paz
Aguentando o eco surdo dos sentidos oprimidos
Gargalhando à desgraça de viver só.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Desmonte alguns versos
E recrie uma poesia
Desarranje uma canção
E componha algo melhor
Ouça o mesmo conselho
E aplique a todo instante
[em vidas diferentes
Escreva uma carta
A mesma carta pra outra gente
Sorria pelos motivos contrários.
Troque sua vida por outra melhor
Volte uns minutos e reviva
Escolha melhor seus amigos
(E perceba que escolheria os que já possui)
Desconstrua a correria
E crie novos prazeres
Viva a vida de outra pessoa
(e que essa pessoa não dê falta da vida dela)
Voe com asas de plástico
Morra caindo, sentindo o vento empurrar seu rosto
Desfaça um engano
Conte uma mentira e não volte atrás
Perturbe as coisas decididas
Incomode o que já está pronto
Estrague

domingo, 18 de julho de 2010

Les réves me donnent envie de te voin ici

Éramos muitos sentados numa platéia fantasmagórica, onde, do teto, caíam máscaras.
Máscaras que variavam entre feições felizes, apenas lúdicas, ludicamente tristes, tristes meramente. Com ou sem lágrimas. Preenchemos os espaços sem caber a nós a escolha de quem estava ao lado.

Havia uma regra. Caindo a máscara das lágrimas, você veste e morre.
Empalideci, gritei... Chorava por conta própria.
Foi quando olhei e te vi na cadeira ao meu lado. E me abraçou. Passou seu braço pelos meus ombros, senti sua respiração no meu pescoço, senti suas pernas entre minhas pernas e tive paz novamente.

Aquele lazer macabro estava tirando minhas energias. Eu respirava em sibilos. E caiu para nós dois a máscara da morte e não morremos. E vestimos. E por trás daquela máscara chorosa, em súplica, havia um sorriso-de-canto-de-boca. Lembro-me agora que ninguém morreu; alguns, sim, ficaram deveras sequelados. Resquícios de dor com hábitos descabidos. Vi bailarinas nuas, poetas trêmulos, músicos sem inspiração. Vi o inferno das artes se manifestar em meus amigos. Era dor pra tudo quanto era lado, eram lágrimas de tinta. Enquanto caminhávamos, nós, por aquelas ruas parisienses de 1910, vimos pessoas queridas ex-risonhas com suas faces pintadas coloridamente, mas repletas de lágrimas e aflição.

Meu tempo escorria entre dedos e tudo que precisava era a certeza. Já não lembro bem de que certeza eu precisava, já não sei se era realmente preciso. Mas tudo que busquei era uma certeza. Era uma ânsia escabrosa de um num-sei-quê de embrulho no estômago para confirmar o que eu queria. Não entendia meus pensamentos. Muito menos o que eu buscava.

A nitidez estava tipicamente acabando. Revi alguns amigos com seus semblantes originais e até senti saudade daquele lúdico-aflito de suas faces.

De tudo que vivi nos instantes finais, lembro agora de ter te roubado um beijo doce e oportuno ao som ignorado e ignorante de Michael Jackson na cabeceira da cama.

(E naquela manhã perdi incontáveis minutos num esforço indomado de guardar aqui dentro, com força e clareza, aquele sonho.)

domingo, 11 de julho de 2010

poeminha mordido

O cinema era no mesmo bairro
No bairro onde os cinemas se confundem
Era a mesma ordem dos fatos
Invertemos apenas as poltronas
Para vermos um outro Petit

Eu voltei ouvindo Tiê
Enrolada no meu lenço blasé
Vivendo lembranças eu sei lá porquê
E confesso estar rindo dessa rima clichê

A comidinha foi no mesmo shopping.
Habituados com as mesmas gordices
Habituados com esses domingos doces cheios de sal
O mesmo sal que faltou na pipoca disputada
Onde quem venceu
foi a moça que não levou um beijo seu

Então eu me pergunto
Quem beijaria um indivíduo,
desses que não se encontra em qualquer esquina
desses que às vezes desatina
e senta na mesa (em cima)
e eu queria encaixar um ''menina''
mas essa rima não termina
apenas estraga uma estrofe

Eis que o filme acaba
a luz acende
a lágrima seca
e perdem-se no ar as lembranças de outros tantos
que reviveram aos encantos
artimanhas de ter sido um Nicolas

Dá-me aqui o meu caderno!
(e minha caneta!)
Presta atenção no que eu falo!
(E quem será que ganhou a Copa?)
Todos os diálogos interrompidos
pelas risadas e dentadas
(inclusive a criação) ("prestenção...")

Vencida pelo orgulho
escrevi dentro do ônibus
soltei algumas palavras presas
certas outras eu preferi guardar
no cansaço de escrever, no medo de mostrar

Dentes num braço que fica roxo semanalmente
Um dedo no olho só de vingancinha
Um beliscão na barriga por mera vontade
Uma batalha travada por excesso de sentimentos
com derramamento de ketchup inocente

odeio o Gabriel.
odeio ketchup.
odeio ketchup no Gabriel.
odeio Gabriel com ketchup.

sábado, 10 de julho de 2010

"São só palavras"

Apresento-lhes esta poesia de uma pessoa muito querida na minha vida.
Aquela pessoa que quero caminhar ao lado a vida inteira, que de tamanha afinidade, seguimos dia após dia, com brigas e alegrias, percalços, infortúnios, risos e muitas palavras.

http://rascunhosrabiscos.blogspot.com/2010/07/sao-so-palavras.html

quarta-feira, 7 de julho de 2010



"Eu sei que quando anoitece
Nos teus sonhos também estremece
A vontade de fugir
Então siga por ali
Vire aquela esquina
e vamos partir"

domingo, 27 de junho de 2010

Efeitos anti-gravitacionais

(E a inspiração veio no ônibus e me faltou caneta. Por que diabos te devolvi?)
Foi quando olhei pro alto e vi a lua, ao som de Pethit. E me dei conta de que a vida estava me dando a chance de ser feliz com as relações (in)completas.
E eu agradeci. Pela plasticidade que somos, pela liberdade de expurgar todos os sentimentos, pela estupidez convencional, pelos suspiros pela vida, por viver em suspiros, pelo rumo das coisas, por racionalizar a cada dia na sua forma mais passional, pela amizade verdadeira sem interrupções, pela certeza do sentimento que me dá a certeza de que te quero por perto da maneira certa, pelo riso frouxo e certo da companhia doce, pelas idéias positivas, pelo despertar mais terno na alegria de te ter comigo.

Agradeci pelas inspirações e pelo lirismo que desadormeceu em mim.
Dei-me conta de que tudo está perfeitamente desencaixado.

E vi a lua.
E lembrei que agora posso sorrir com o motivo que me derrubou em lágrimas.
A mesma lua que me fez amar, foi a que me fez chorar e hoje, viver.

Caminhei os poucos passos que me restavam entre meu ponto e minha porta.
Num último olhar para o alto, fechei os olhos e desejei. Que tivesse a (in)certeza das minhas escolhas, que fosse capaz de sorrir com a confusão dos meus pensamentos, que o tempo firmasse meus ideais, que grandes idéias caminhassem ao meu lado. Desejei coisas que não sou capaz de escrever. Desejei uma caneta, um giz. Sentaria na calçada e escreveria no asfalto, como nos tempos passados - sentada no chão, desenhava ao meu redor uma nave. A mesma nave, com os mesmos botões, as mesmas parafernalhas. Eu previa a lua na minha vida. Eu desejava a lua por perto. Eu me via perto da lua.
Voltei para meus 23 anos. Desejei mais tempo para minhas lembranças. Desejei você feliz. E que, livre da forma pré-concebida, mas do jeito que achar que te cabe.

Desejei que nunca se cansasse de mim.

sábado, 26 de junho de 2010

Eu estou andando. Com os olhos fechados, apalpando as paredes. Eu não sei pra onde vou, nem o que encontrar, mas eu ando. Eu percebo a textura, eu localizo os barulhos e identifico cheiros. Eu vou muito além do que previa e tudo isso sem enxergar. Eu estou manipulando objetos para associar o caminho; como João e Maria jogo artefatos no chão para voltar atrás caso queira. Caso tenha volta.
seja bom, seja amor.
contanto que exista.

domingo, 20 de junho de 2010

Dos devaneios


É bom se ver acordar. Fico bem vendo o sol ou sua sombra despontando na vida. É delicioso ver os ares dos olhos abertos para o dia que começa. Vontades transbordando, sonhos. Sonhos estendidos da noite que se viveu longe, por um fio.
Pela manhã a vida é mais clara, mais lúcida.
Delírios noturnos se confundem com fatos e nada é tão verídico.

Ao mesmo tempo, as mesmas pessoas interrompem os mesmos sonhos.
E a manhã convida para as mesmas horas, costuradas com as mesmas idéias,

dando a chance de criar novos desejos, que entrarão na fila dos sonhos ao anoitecer.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Do instante em que eu acordo ao pestanejar sonolento, eu penso. Em cada passo dado, a cada travessia da ponte, cada mordida na carne, cada letra que escrevo na monótona aula de farmacognosia, até o grafite quebrar.
Penso com força até doer, penso na vida, nos meus planos fracassados - o que concluo, esqueço; meus olhos não piscam quando penso. Sinto um calor ondulado, um arrepio sorrateiro no instante que direciono o pensamento.
Por bem ou por mal, na vida ou na morte, escolhas e desistências. Pessoas. Todos os dias penso um pouco em cada um. No meu pai e suas dificuldades, que camuflam suas facilidades, na minha mãe que de tanto abrir mão, hoje se encontra na corda bamba da dependência. Penso e peso os amigos. Os que tanto vejo que não qualifico. Os que se quer falo. Os que amo. Penso no que queria amar. E é nessa hora que me penso. Carente, frágil, mesquinha. Como um sopro, sinto minha característica - palavra fria, pulverizar ao meu redor.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Almanaque

Ó menina vai ver nesse almanaque

como é que isso tudo começou

Diz quem é que marcava o tic-tac
e a ampulheta do tempo disparou

Se mamava se sabe lá em que teta
o primeiro bezerro que berrou

Me diz, me diz, me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Quem penava no sol a vida inteira
como é que a moleira não rachou

Me diz, me diz

Quem tapava esse sol com a peneira
e quem foi que a peneira esfuracou

Me diz, me diz, me diz por favor

Quem pintou a bandeira brasileira
Que tinha tanto lápis de cor

Me diz, me diz, me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Diz quem foi que fez o primeiro teto
Que o projeto não desmoronou

Quem foi esse pedreiro esse arquiteto
E o valente primeiro morador

Me diz, me diz, um morador

Diz quem foi que inventou o analfabeto
E ensinou o alfabeto ao professor

Me diz, me diz
Me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Quem é que sabe o signo do capeta
E o ascendente de Deus Nosso Senhor

Nosso Senhor

Quem não fez a patente da espoleta
Explodir na gaveta do inventor

Me diz, me diz, me diz por favor

Quem tava no volante do planeta
Que o meu continente capotou

Me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Vê se tem no almanaque, essa menina,
Como é que termina um grande amor

Me diz, me diz... Um grande amor

Se adianta tomar uma aspirina
Ou se bate na quina aquela dor

Me diz, me diz
Me diz... Aquela dor

Se é chover o ano inteiro chuva fina
Ou se é como cair do elevador

Me responde por favor
Pra que que tudo começou

Quando tudo acaba.

(Chico Buarque)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

corpo de Cristo

A vida tem desses arroubos. Desses arrombos. A gente dorme e acorda cansado. O dia corre feliz e deitamos tristes. Deitamos incompletos. Sempre falta algum sentimento. Sempre falta alguma pessoa. Eu estou exausta. Exausta de sonhar, de acordar. Hoje sonhei contigo. Sonhei que ela não aguentava seu jeito e você voltava praquela que te aguentou tempo demais. Sonhei com você também. Lá você era simples, mas singular. Nos meus devaneios você era o que eu sempre quis. Você não tinha tormentos. Aposto que você iria amar sonhar o sonho que sonhei. Sim, você também. Você foi o último da noite. Como em 'Teresinha' do Chico, chegou como quem chega do nada. Não disse nada. Apenas se deitou ao meu lado. E hoje, mais do que deitar, quero explicações. Quero que você me explique as sacanagens suas e as da vida. Com propriedade. Te dizer... Eu cansei da vida. Dessa vida morta. Eu estou exausta. Exausta pelos meus sonhos. Pela realidade também. Mas já nem sei mais o que é o quê. E confesso que muito menos quero saber.
Hoje levantei meio atropelada. Hoje é feriado. De que mesmo? Num entendo esse dia. É latim. Arrisco em dizer que poucos entendem. É o dia de pôr a vida em dia. É a vida de pôr o dia em dia. E hoje acordei poesiando mais pra cuspir menos nos outros. Quando escrevo, eu dreno. Ai, cacete, agulha. Entre uma risada e outra eu poesio mais e sofro menos - ou mais? Ah, diabo.
E diabo nada tem a ver com Corpus Christi (escrevi certo?). E cá estamos nós perdidos nos assuntos. Meus sonhos, meus dias, meus amores, ex-amores que são amores, minhas ex-vidas.

"mas agora", pensou a pobre Alice, "não adianta nada fingir ser duas pessoas! Ora, mal sobra alguma coisa de mim para fazer uma pessoa apresentavél."

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dezembro II

Um silêncio.
Uma escuridão.
Uma advertência.
Uma risada.
Duas risadas. Várias.
Vou contar uma história.
Escolhida a dedo.
Dedos. Mãos. Surpresas.
Toques.
Direção errada.
Outra advertência.
Minhocas.
O roçar da barba.
O elogio. O 'continua'.
Uma perna. Duas. Quatro.
Entrelaçadas.
Opa. Desculpa.
Não, tudo bem.
Isso é divertido.
Uma noite.
Um erro.
Tem nojo? Não.
Foi.

sábado, 29 de maio de 2010

Dezembro

Eu me apaixonei por alguém que não existe.
Eu vivi uma vida que criei.
Eu não fui muita coisa ao longo desses dias que se passaram.
É duro moldar alguém na sua mente e perceber que isso de nada serve.
Notar que barro derrete no calor dos dias seguidos
e quem você conheceu é nada além de alguém você inventou.

domingo, 23 de maio de 2010

zona de conforto

Amo, amo sempre, com gosto, prazer, pela vontade de ter. Confesso que me rastejo, que suplico e desejo. Reapaixonei-me. Pelo novo, pelo velho, pelo de sempre. Pelo que não deu certo. Falta de tempo, falta de vontade, falta de tato. Faltou o tesão que agora sobra. Sobra a vontade de deitar junto, de viajar, de rir, de comer no... sei lá. Vontade de acompanhar. Se foi o medo, se foi a preguiça, se foi porque não tinha que ter ido. Invariavelmente eu amo.

E quero, e tento negar. E bato com a testa já arranhada na parede.

E então descubro que prefiro o silêncio. Amar assim, escondidinha. Amar pelo prazer de estar perto. Amar pela doçura da companhia. E pouco importa se estou sendo lida. Atingir ou não. O que, de certa forma, já não me alcança.

Independo de retribuição.

Amo por querer sentir o calor das mãos, a maciez dos cabelos, o perfume do pescoço que nunca senti. Amo por querer conversar, amo a sonora gargalhada, o abraço quente. Amo os seus olhos. Amo porque quero e necessito. E me culpo. Por amar em silêncio e ser incapaz de enfrentar. Talvez por saber dO Não. Talvez por evitar uma perda. Talvez pela simples vontade de guardar esse sentimento tão real, tão definido dentro de mim, e cuidar.

sábado, 22 de maio de 2010

sem fantasia

Vidas aleatórias, paralelas, cheias de quinas. Tanta coisa acontecendo, tanta gente se cruzando, tanta gente se aceitando. É chegado o tempo da máscara cair, e as vidas vão se esbarrando, suas tralhas vão ao chão - perdão, deixe-me ajudar.
Dois amores numa mesma noite, duas vidas num só corpo saciando companhias tão alheias.
Uma tentativa tola de se viver ao mesmo tempo que mente. Aos poucos tudo vai se desencaixando, as peças se espalham sobre a mesa e resta a obrigação de refazer o comportamento, de reconstruir as idéias e o temperamento. Não se vive mais na idealização de ser muitas ao mesmo tempo. Resta pouco para ser pelo menos uma só.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Prazer chamo-me acaso


...E você diz tanta coisa, tem tantos argumentos, tantas lamentações. Às vezes me vejo perdida.


Queria mudar tudo isso, só extendendo minha mão.
Quero estalar meus dedos ao pé de seu ouvido, dizer meia dúzia de palavras sutilmente profanas e enxergar uma pessoa simples, sem muitos.... você sabe.

Vejo você perguntar "o que eu estou fazendo ali?", e te respondo que também não sei... penso que era comigo que deveria estar. Audácia? Desculpe-me.
Você "sai" do bar e se projeta para outro lugar. Mas pra onde?
Seu ritmo é difícil de acompanhar e a nuvem de pensamentos que te rodeia é densa e eu não te alcanço. Incapaz, eu? Sem dúvida. Quando se trata de você, as coisas não andam nada simples.
Aí, você percebe que está no lugar errado, ao lado de quem não queria estar...
"Tudo é superficial demais para mim..."
Humilde, não? Mas que assim seja. Nada é, de fato, tão profundo como você. E como eu quis imergir nesse mundo, ... Mas o medo tomou conta e só de pensar em não conseguir voltar mais pro meu real, fazia-me desviar o olhar.
Fugi.
Fugi de você, fugi desses estranhos olhos arrebatadores de menininhas inocentes, esquivei-me desses braços e de seus abraços, da boca voluptuosa, das narinas quentes que exalavam um cheiro que até então não sabia. "Era uma época em que eu conseguia esquecer quem eu realmente sou..." [belles mots] Nossas pernas nunca se cruzaram e nunca se cruzarão.

Triste?
Evidente, mas de fácil compreensão.

sábado, 15 de maio de 2010

eu, homem


"Desculpe, te entendo. Mas não sei o que posso fazer por você"

E desligo o telefone sem o menor pudor, retomando o que estava fazendo antes sem cerimônia.
Olho pra mim e penso - cacete, fiz igual.
Depois de muita lágrima boba, depois de muita dor visceral, enlaçaram-me com força e eu quis me soltar. Vivo a grandeza de amar alguém e ser deixada. Hoje escorrego entre os dedos do compromisso e me desvencilho a cada dia desse excesso de coisas que me oferece.

O ciclo do sentimento é, de fato, algo muito interessante. Talvez tudo isso que esteja escrevendo seja "íntimo demais", mas vejo uma total liberdade em dizer que amei demais, fui pisada, cuspida e escarrada. E agora, olho pra baixo e vejo um protótipo de amor que chora por mim. Condenei a frieza do que me abandonou e hoje repito palavras vagas que me foram ditas e mal recebidas.

Peço perdão por não ser doce, por não entender, por não compartilhar o sentimento. Esquivo-me de conversas, de promessas e sinto muito por ser homem demais e não alcançar a grandeza do sentimento.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

dormindo com Santos Dumont

Você tem 20 minutos? Preciso contar uma história de superação. Uma história cheia de exageros e piadas internas comigo mesma. Mas, acima de tudo, uma história factual. "Oi, por favor, um táxi para 17:15h. Laboratório Servier do Brasil. Obrigada" "Senhora Eleanor, o táxi número 576403983 a aguarda" Se eu soubesse o que viria pela frente? Iria assim mesmo. Foi uma noite quente. No sentido das idéias. Mas passei um frio do cacete naquele lugar dos infernos chamado Aeroporto Santos Dumont. Eram 18:30h quando entrei no saguão principal. Recebi alguns ligações perguntando se tudo estava bem. Caía uma chuva torrencial no Rio de Janeiro. Ricardo, motorista do trabalho, Vera, minha amiga, Monica, minha chefe, meu pai, Fernando, todos me telefonando, questionando se iria mesmo. Fui para fila fazer meu check-in. Atrás de mim, um homem alto, careca, blusa estampada, um casaco de lona, uma mala "frágil" e um sorriso: "Essa gravação só repete o que a gente já sabe". Sorri e fui atendida. Feliz da vida, fui adiantada para o vôo de 19:40h e chegaria em São Paulo antes do previsto. Dava pra assistir mais de dois episódios de Friends (a 4ª temporada estava na mala...) Eram 20:40h quando ainda estava no salão de embarque. Com 9 reias, comprei um sanduíche natural de peito de peru com coca-cola. Ouvia Rita Lee e lia Chico Buarque. Excelentes companhias. Do meu lado, sentou o cover do Patrick Swayze, indo pra Vitória - ES. Do outro lado, uma leitora de "Morro dos ventos uivantes". Carol, 28 anos, minha alma gêmea. Exceto por morar no Leblon. Tínhamos o senso de humor idênticos, a mesma gargalhada e o nariz escorrendo de crise alérgica. Fã de FRIENDS, doente por Crepúsculo (segunda diferença). Logo a seguir descobri que lia aquele livro porque era o favorito de Edward e Bela. En-fim. Eram 21:30h quando o cara simpático check-in surgiu. Sai Patrick Swayze, entra ele. "Posso tirar uma foto sua?" (é cada um que me aparece, pensei) "Pra quê quer uma foto minha?" "Pra registrar essa noite inesquecível" "Prefiro que tire foto do meu pé, todo picado de mosquito" "ok". Diálogo de nada serviu, quando dei por mim estava às gargalhadas com Johann Bécker, sendo fotografada e fotografando. Uma Nikon que pesava, sei lá, uns 3 quilos. E lá fui eu, câmera em punho, fotografar o aeroporto. A chuva não cedia. O humor também não. Eram 22:30h quando entrei no avião. Emocionada, louca para pôr os pés no quarto do hotel, dormir em paz para viver o dia seguinte com dignidade. Mais tarde saberia que "dia seguinte" e "dignidade" não entrariam na mesma frase. "Senhores passageiros, por motivos metereológicos, o aeroporto encontra-se fechado para nossa decolagem. E, para piorar a sitação, o Santos Dumont não opera após 23h. Boa noite" Sempre achei graça nesses informalismos de piloto de avião/barca. Hoje, não. (Adiantando) Eram 01:20h quando estava pela segunda vez no check-in. Vôo para 08:10h. Nessa fila, que deveriam ter umas 600 pessoas (sem exageros), conheci uma galera boa. Conheci Mariana, 23 anos. Minha segunda alma gêmea. Formada em jornalismo pela Uerj, tá morando em SP, trabalhando no setor de vendas da Nestlé, na área de produtos terapêuticos. Dona de uma risada fofa, um vestido mais fofo ainda. Cedeu seu edredon pra eu sentar enquanto aguardava ser atendida. Com o vôo já remarcado, liguei para Laura Lamas, que mora em Laranjeiras. Ela fez a caminha pra mim, mas os fucking shit motha fucka bitchs dos taxistas não quiseram nos levar. Falo na primeira pessoa do plural, porque daí em diante entra o Johann grudado nos meus passos. Ele tem um apartamento em Laranjeiras também. Esse lugar, inclusive, foi me oferecido com insistência. Nem comento isso. Eram 02:16h quando desisti de sair do aeroporto. "Johann, me dê licença. Vou ao banheiro escovar os dentes e dormir." Meu amigo se encostou num canto qualquer e apagou. Não a noite toda, pois dificilmente um adulto beirando seus 50 anos dorme um noite toda. Que dirá no chão. Escovei meus dentes, vesti minha blusa de Avatar - que era pra ser do Raphael por mérito, coloquei meias, me enrolei na paximina, pus meu tapa-olho curitibano, enfiei a bolsa de mão na mala, coloquei celular pra despertar e capotei no chão, pernas por cima da mala por hábito e precaução. Acordei com a gravação "ANVISA informa"... Pros INFERNOS, ANVISA! Levantei com Johann me acordando "me empresta 2 reais? o caixa eletrônico tá fora do ar..." Ok. Ele retornou com um café com leite quente e acolhedor. Poderia classificar esse momento de diversas formas, mas prefiro não. Fui até o banheiro, lavei o rosto, dei bom dia às pessoas com ar taciturno. Por uns instantes parecia hotel. Mas alguns minutos mais tarde voltei a me senti gravando "O Terminal" ou "Ensaio sobre a cegueira". Eram 08:00h quando notei que não iria mais pra SP. Já tinha visto de um tudo. Até a Rita Cadillac. Virei amiga de uns dos diretores do Banco Real. Um fofo. Literalmente. Nessa manhã Johann me convida para viajar pra Fortaleza. Como convidada para o Festival de cine digital. Cacilda. Onde eu fui parar?! "Fique tranquila, um quarto só pra você. Você merece pela companhia maravilhosa que foi essa noite". Meu Deus, como isso pegou mal! Eu queria sumir. Mas ao mesmo tempo vivi intesamente cada minuto. Foi aí que desisti. "Amigo, quero ir embora. Me dê minha bagagem" "Me acompanhe" Fui até setor de bagagem, conheci uns funcionários animadérrimos. Uma noção? Depois de esperar 10 min minha mala, estava sentada no balcão ouvindo piada e tomando água. Quando Renê chega com minha mala, vem junto uma outra bem conhecida. A mala de Johann. Cheia de equipamento. Se eu fosse má, poderia ter levado embora aquilo tudo. Mas não queria mais vínculos. A questão, entretanto, é mais sério do que se imagina. E se fosse ao contrário?! A mulher do check-in entendeu que estávamos juntos em viagem e despachou tudo junto. Céus... Eram 11:00h quando fui pra fila pegar reembolso. Queria banho, comida, queria dormir, queria fazer número dois. Conheci mais pessoas. Duas cariocas/nordestinas, uma mocinha trabalhadora de Nilópolis, que deixa sua filhinha de 3 anos com a mãe pra ela viajar pra Vitória, conheci um menino lindo de Goiânia que trabalha na Floresta Amazônica, mas que ganhou férias de 3 meses pra viajar pelo Brasil, conheci um cozinheiro mineiro animado também. E vi Dan Stulbach. "Sopapos" para alguns, "Tom Hanks" pra outros. O que importa é que pra completar meu 'ciclo de esbarrar com meus favoritos' falta só o Chico Buarque e o Johnny Depp. Wagner Moura já foi. 3 vezes. Eram 12:30h quando finalmente podia ir embora. Me senti alforriada. Fui ate um táxi qualquer "moço, me leva pro meier?" "impossivel" "e pra cinelândia?" "tambem não" "moço, pra que você tá aqui entao?" E saí. Quando, de repente... avisto "Taxi Méier". "Moço, me leva pro Méier?" "Pra lá, eu levo". Eram 14:00h quando estava de banho tomado, macarrão no estômago e de pijaminha. Sem conhecer São Paulo, minha cidade submersa, sem aula, sem trabalho, mas com uma sensação de vida bem vivida danada. Boa noite.

domingo, 28 de março de 2010

Yesterday

Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they're here to stay
Oh, I believe in yesterday

Suddenly
I'm not half the man I used to be
There's a shadow hanging over me
Oh, yesterday came suddenly

Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday

Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe in yesterday

Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday

Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe in yesterday

Lennon / McCartney


Comentário pessoal: ainda sofro, ainda dói, mas já não penso mais no recomeço.

quarta-feira, 17 de março de 2010

matando a saudade da pior forma

"Preciso não dormir

Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.

Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu."

domingo, 7 de março de 2010

iracema querendo voar


É o tipo de sentimento que até daria pra fazer uma poesia.
Mas isso se não tivesse tomada de um ódio amoroso esquisito.
Vontade de sumir pra viajar e pensar que diabos faço e fazem de mim.
Após uma noite de todo o sentimento, depois de vívidas horas vividas,
sem medo de envolvimento, sem noção de certo ou errado, com a carne trêmula e a pele borbulhando em ternas sensações, surge o novo velho medo do passado.
Se não bastasse minhas intrigas pessoais, minhas discussões internas, tinha você de aparecer e revirar minhas dores e minhas fraquezas.
É quando pergunto até quando vou viver nessa corda bamba de sentimento, oscilando entre saudade, raiva, amor, medo e vontade de fugir.
Tenho mil coisas pra te dizer, pra viver, pra te cuspir.
Tenho a certeza do envolvimento errado, mas insisto nessa reta mais fácil de seguir.
Sem as curvas dos seus pensamentos difíceis de entender.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

querido

Ando sem pressa de amar.
Ando sem vontade de sofrer.
Decidi dar chance a você, ao que se sente sinceramente.
Se vão apoiar, não sei.
Se vai magoar, talvez. Mas isso não importa. Vale o quanto pesa e o quanto se deseja.
Aos poucos, lentamente, semeando o sentimento, acreditando na sua verdade.
Lentamente vamos vivendo, acontecendo e nos entendendo.
Simples desse jeito. A gente não se ama, a gente não se cobra, a gente nem sabe o que aconteceu.
Mas estamos juntos pra vida nos levar como tiver de ser. E será.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

faca amolada

hoje, como todos os dias senti vontade de escrever. senti vontade de cuspir palavras sem pensar, sem colocar o shift, sem refletir na consequência e nos erros do português da madrugada.
hoje vivo um pouco mais, respirando um pouco mais, sofrendo um pouco mais. vivendo o sofrimento romântico, daqueles que querem morrer de amor. vivo declarando minha alma ao diabo e ao mundo sem pensar nos 'nãos' e risadas. respiro o ar dos apaixonados por si e por todos. dos que se entregam sem medir e vomitam o arrependimento no final. vivo a paz dos amantes, vivo o choro dos desiludidos, vivo o caminho próprio e o do outro. corro contra a ventania e meu rosto se arranha com a poeira dos delírios de uma vida sem interrupções, impetuosa e desregrada. não receio, não temo, não paro. eu corro, abraço, encanto e desencanto. eu suspiro por tantos e por ninguém. eu procuro gostar odiando, repudiar querendo. eu pouco me entendo, mas compreendo como ninguém. eu descubro os limites pelo mero prazer de ultrapassá-los. não sei mais que tipo de gente sou e onde me classifico. eu perdi a vontade de me rotular. eu não me enquadro mais no mundo. eu reclamo e volto atrás. eu peço desculpas sem medo, mas sem sinceridade também. eu magoou sem culpa. eu piso. eu mordo, assopro. conquisto e corro. eu sinto vergonha por fora, gargalho por dentro. eu gosto da maldade, da maledicência. eu não interrompo minha mente. eu aprovo meu raciocínio e estimulo. eu desci do muro, me arranhei toda, espanei a fuligem e corri.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Querido diário,

Estou pequena.
Estou mesquinha e medíocre.
O mal falar escorre entre meus dentes e sinto vergonha.
O desgaste da vida alheia percorre meus dias e eu desvalorizo o tempo.
A sinuosidade do meu caráter assusta. Conquista e escapa. Semeio dor e desprazer.
Eu perdi a essência e desenterrei o fascínio pelo pequeno. Por despudor.
Eu perdi o medo.
Eu dei as mãos ao perigo e subjuguei o amor.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Obstinada

"Me livrei do seu enredo
Estou de porta aberta
Meu caminho é longe desse seu desamor.

Irrequieta
Cabelo ao vento
Pareço um planador.

Vejo léguas à minha frente
Fui pro andar de cima
Desatarraxei você das bordas de mim.

Absoluta
Milhas adiante
Muito bem melhor assim.

Por isso eu nunca pararia
Na parada em que você estaria
Sabe lá no que vai dar
Não me arriscaria
No meu rim, no cotovelo
Na raiz de um fio de cabelo
Que resido do indivíduo
Me desarvoraria
Estou assim
Por isso vim
Contar minha historinha
Livre enfim
Você pra mim, não.

Desafio, desvario
Rio de Janeiro
Abre as asas quentes sobre o meu nascer do sol.

Espevitada
Examino as frentes
Batuque, praia e rock 'n' rool.

Recomeço no tropeço
No sobressalto
Nem eu mesma aturo esse meu estado borbulhante.

Obstinada
Enxergo ao longe
Possibilidades radiantes.

Por isso eu nunca pararia
Na parada em que você estaria
Sabe lá no que vai dar
Não me arriscaria
No meu rim, no cotovelo
Na raiz de um fio de cabelo
Que resido do indivíduo
Me desarvoraria
Estou assim
Por isso vim
Contar minha historinha
Livre enfim
Você pra mim, não."

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Cansei de artistas. Falsificadores de sentimentos. Cansei deles. Gosto da arte ocasional. Gosto dela combinada com a vida real. Sou cruel ao dizer isso, estou ferindo muita gente. Mas parece que é só isso que sei fazer por agora. Ferir. Exalar rancor, mágoa. Exalar verdade. Exalar realidade. Estou na minha melhor fase. Estou no meu maior estilo Vincent Price. Muito embora saiba que não passo de Malloy. Sonho em ser má de verdade.

Ora, mas que bobagem.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010